Noticia
Acessibilidade na Surdocegueira
Acessibilidade na surdocegueira
Você já ouviu falar sobre pessoas surdocegas? Quais desafios elas enfrentam? Será que elas usam as mesmas tecnologias usadas por pessoas surdas e cegas?
O dia 27 de junho é o Dia Internacional da Pessoa com Surdocegueira. No Fique por Dentro desta semana, vamos saber um pouco sobre acessibilidade na surdocegueira.
O que é surdocegueira
É uma condição em que as deficiências visual e auditiva estão juntas. Nem sempre é a falta total de visão e audição: pessoas surdocegas podem ter audição residual e cegueira, ter surdez profunda e baixa visão, ter audição e visão residuais ou ser totalmente surdas e cegas. As que nascem ou se tornam surdocegas nos primeiros anos de vida são surdocegas congênitas. Já pessoas surdas que se tornam cegas, pessoas cegas que se tornam surdas e pessoas que se tornam surdocegas ao longo da vida têm surdocegueira adquirida.
Mas essa não é a soma de duas deficiências. Há um impacto multiplicador. Note que pessoas surdas usam muito a visão e pessoas com deficiência visual, a audição e o tato. Pessoas surdocegas nem sempre têm baixa visão e/ou audição e sua experiência é muito mais tátil. Enfrentam barreiras mais abrangentes na comunicação, no acesso às informações, na interação com o meio e na orientação e mobilidade. Trata-se de uma única deficiência. Por isso, escreve-se “surdocegueira” sem hífen. Os apoios são variados, devido às diferenças entre as pessoas surdocegas, e podem envolver a atuação de outras pessoas e o uso dos sentidos remanescentes.
Apoios ofertados por outras pessoas
Exigem muito contato físico e alguns são ofertados por profissionais. Um deles é o instrutor mediador, que atua com crianças surdocegas congênitas: na escola, ele identifica como elas se comunicam, que formas de comunicação podem aprender e propõe estratégias para a sua participação nas aulas. Outro profissional é o guia intérprete, que é diferente do intérprete de LIBRAS por dominar vários sistemas de comunicação, técnicas de audiodescrição e de orientação e mobilidade. Atua com pessoas com surdocegueira adquirida, normalmente na escola e em eventos.
Comunicação
Pessoas surdocegas podem usar mais de um sistema de comunicação. Entre os mais comuns estão:
- Alfabeto em Braille nos dedos: os dedos indicador e médio da pessoa surdocega formam uma cela Braille imaginária, onde a outra pessoa forma as letras do Braille;
- Escrita com o dedo: “desenho” das letras do alfabeto convencional em alguma parte do corpo da pessoa surdocega, como braço, costas ou outra parte mais sensível ao toque;
- Tadoma: a pessoa surdocega aproxima os dedos ao queixo da outra pessoa e, através dos movimentos da boca ou das vibrações das cordas vocais, entende o que ela está falando;
- LIBRAS tátil: os sinais da LIBRAS são tocados pela pessoa surdocega;
- LIBRAS em campo reduzido: os sinais da LIBRAS são formados dentro da distância e amplitude que a pessoa possa ver;
- Comunicação social Háptica: acontece através de toques realizados, por exemplo, nas costas da pessoa surdocega. No Brasil, é adotada em conjunto com outro sistema de comunicação para passar aspectos que não estão na mensagem “principal”, como emoções e descrições;
- Fala ampliada: o guia intérprete reproduz a mensagem do interlocutor próximo ao ouvido da pessoa surdocega e de forma pausada;
- Comunicação alternativa: abrange gestos, uso de cartões de comunicação, ‘entre outros.
Outras possibilidades são leitura labial, alfabeto moon, alfabeto manual LORN, sistema Malossi, alfabeto da língua de sinais tátil e alfabeto manual de duas mãos.
Acesso à informação
As informações do meio podem chegar desconexas para a pessoa surdocega. A comunicação mediada deve integrá-las. No ambiente, a pessoa deve ficar onde possa ver e/ou ouvir as informações importantes.
Os acontecimentos podem ser antecipados através da comunicação, de características concretas de um espaço e de objetos de referência, que representam lugares, ações, pessoas, objetos e conceitos, como o uso de uma escova de dentes para antecipar a higiene bucal.
Os textos podem ganhar versões em Braille, caracteres e contrastes ampliados, LIBRAS, etc. As figuras devem ser simples e ter descrições. Também podem ser usados recursos táteis.
O acesso ao ambiente virtual pode ocorrer através de janela de LIBRAS, recursos que convertem texto para LIBRAS, leitor de telas, ampliador de telas e linha Braille, adequada principalmente para as pessoas totalmente surdas e cegas. Algumas pessoas transmitem a tela para a TV para obter ampliação e usam recursos de transcrição de texto para voz e de voz para texto. Ainda há muitas barreiras para o acesso de pessoas surdocegas ao meio virtual, como janelas de LIBRAS muito pequenas, com cores e contrastes inadequados, e o alto custo da linha Braille.
Ambiente
A organização do ambiente deve propiciar a interação da pessoa surdocega com pessoas e objetos, permitindo-lhe antecipar atividades, obter pistas e fazer escolhas.
Os ambientes podem ser sinalizados com Braille, diferenciação tátil no chão e nas paredes, LIBRAS, caracteres e contrastes ampliados, comunicação alternativa, etc. Devem ser iluminados com lâmpadas incandescentes e/ou luz solar. Recomenda-se evitar reflexos, ter atenção a mudanças bruscas de luminosidade e, conforme a necessidade, regular a iluminação e usar lâmpadas portáteis. A organização dos móveis deve facilitar a mobilidade de todos e deve-se ter atenção a objetos aéreos, degraus ou outros elementos que tragam risco. Também se deve reduzir ruídos externos.
A orientação e mobilidade pode ser mediada por outra pessoa, como um guia intérprete. As pessoas surdocegas também podem usar bengala. Atualmente, recomenda-se o uso preferencial de bengalas vermelhas para diferenciá-las das pessoas com deficiência visual. Assim, por exemplo, quem vir uma pessoa com bengala vermelha na rua e desejar ajudá-la, pode prever que o diálogo falado talvez não seja viável e que pode ser necessário identificar outras formas para a comunicação. O uso da bengala vermelha não parece estar difundido no Brasil.
Pesquise mais
Para aprofundar-se mais sobre o assunto, encorajamos você a pesquisar mais através dos links e materiais a seguir:
- A pessoa surdocega: desafios e possibilidades no cenário atual - YouTube;
- Algumas formas de comunicação mais usadas por pessoas com surdocegueira – YouTube;
- Formas de Comunicação na Surdocegueira - Rafaela Adle – YouTube;
- Modalidades comunicativas e recursos táteis para alunos com deficiência múltipla e surdocegueira – YouTube;
- Webnário: Formação do guia-intérprete e a comunicação social háptica - YouTube;
- Webnário Núcleo de Atendimento Educacional à Pessoa com Surdocegueira (NAEPS) - Ensino Remoto – YouTube;
- Webnário Tecnologias para Pessoas com Deficiência Visual e Surdocegueira – YouTube;
- BOSCO, Ismênia Carolina Mota Gomes. MESQUITA, Sandra Regina Stanziani Higino. MAIA, Shirley Rodrigues. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar. Surdocegueira e Deficiência Múltipla. Brasília, 2010.
- Como as pessoas com surdocegueira acessam o computador e a web. IN SALTON, Bruna Poletto; AGNOL, Anderson Dall; TURCATTI Alissa. Manual de Acessibilidade em Documentos Digitais Bento Gonçalves, RS: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, 2017. P. 32.