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Alguns conceitos ligados à inclusão III: tecnologia assistiva

Dando continuidade às postagens que abordam conceitos ligados à inclusão, esta edição do Fique por Dentro busca explicar o que é a tecnologia assistiva (TA).
por publicado: 21/06/2023 19h01 última modificação: 21/06/2023 19h01

Alguns conceitos ligados à inclusão III: tecnologia assistiva

                A expressão “tecnologia assistiva” é comum nos espaços de apoio a pessoas com deficiência e em textos ligados à inclusão, mas pode ser estranha para quem não está familiarizado com a área.

                Dando continuidade às postagens que abordam conceitos ligados à inclusão, esta edição do Fique por Dentro busca explicar o que é a tecnologia assistiva (TA).

                Você pode ler as postagens anteriores sobre os conceitos ligados à inclusão acessando os links no final deste texto.

O que é tecnologia assistiva?

                A TA abrange recursos e serviços usados para favorecer a autonomia de pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. A Lei Brasileira de Inclusão define TA como:

“produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social;” (Art. 3º, inc. III).

                Pessoas idosas também podem se beneficiar da TA.

                A tecnologia assistiva tem diferentes classificações. Entre estas, a de José Tonolli e Rita Bersch, que apresenta as seguintes categorias:

-          auxílios para a vida diária e vida prática;

-          CAA (comunicação aumentativa e alternativa);

-          recursos de acessibilidade ao computador;

-          sistemas de controle de ambiente;

-          projetos arquitetônicos para acessibilidade;

-          órteses e próteses;

-          adequação postural;

-          auxílios de mobilidade;

-          auxílios para ampliação da função visual e recursos que traduzem conteúdos visuais em áudio ou informação tátil;

-          auxílios para melhorar a função auditiva e recursos utilizados para traduzir os conteúdos de áudio em imagens;

-          texto e língua de sinais;

-          mobilidade em veículos;

-          esporte e lazer.

Essa classificação, com suas definições e exemplos, pode ser consultada no texto “Introdução à Tecnologia Assistiva”, de Rita Bersch.

                As características de um recurso de TA dependem da especificidade do usuário e da ação a ser realizada. Alguns, como órteses e próteses, ampliam ou favorecem habilidades da pessoa. Outros exploram possibilidades que ela tem para proporcionar formas alternativas de realizar certas ações. Por exemplo: a autora deste texto é cega e, para produzi-lo, está usando um leitor de telas. Sem um recurso de TA, a informação na tela do computador só seria acessada visualmente, mas o software possibilita a uma pessoa cega realizar essa atividade ao converter o texto em áudio.

                Há também os serviços de TA, que dão suporte ao usuário na escolha, aquisição, aprendizagem, uso, acompanhamento e ajuste dos recursos. Um exemplo é o apoio do atendimento educacional especializado ao identificar e indicar os recursos para um estudante com deficiência.

Alguns exemplos de TA

                Seguem exemplos do uso de recursos de TA.

Obs.: a menção de algumas deficiências não é para rotular pessoas ou indicar que um recurso só é usado por quem tem certa especificidade. Pessoas diferentes podem usar vários recursos de TA. Por exemplo, há quem enxerga e às vezes usa leitor de telas ou recorre à audiodescrição. Por outro lado, nem todas as pessoas que fazem parte do público-alvo principal de um recurso se adaptam ao mesmo. Por exemplo, nem todos os cegos leem Braille ou usam guia de assinatura.  Então, as informações abaixo são só exemplos:

  • Atividades do dia a dia: pessoas com deficiência visual podem assinar documentos na escrita comum usando uma régua vazada, chamada “guia de assinatura”. Também podem controlar smart tvs através de leitores de tela, recurso infelizmente ainda não disponível para todos os modelos e marcas. Além disso, podem controlar certos aparelhos, como alguns modelos de ar condicionado, através do aplicativo disponibilizado pela fabricante.
  • Mobilidade: pessoas com deficiência visual e surdocegas podem usar bengalas na sua locomoção. Já pessoas com deficiência física, muletas, cadeiras de rodas ou outros recursos, a depender da sua especificidade.
  • Comunicação: pessoas com dificuldade para falar e/ou escrever podem usar cartões e pranchas de comunicação, que podem ser físicos ou virtuais, e pessoas surdas e surdocegas usuárias da LIBRAS podem se comunicar através desta língua, muitas vezes com o apoio de intérpretes e guias intérpretes, conforme o caso. Leia mais nas postagens  “Deficiência e dificuldades de expressão verbal: alternativas para promover a comunicação” e “Acessibilidade na Surdocegueira”.
  • Leitura: pessoas com deficiência visual e surdocegas podem acessar textos em braile e em formato digital. Pessoas com baixa visão também podem ler materiais ampliados com configurações visuais específicas. Conteúdo em áudio é outra alternativa para pessoas cegas e com baixa visão e o conteúdo em Libras, para pessoas surdas.
  • Escrita manual: pessoas cegas, surdocegas e com baixa visão podem escrever em Braille. Pessoas com baixa visão também podem escrever no sistema comum de escrita, usando cadernos com pautas ampliadas, lápis mais escuros e outras estratégias que favoreçam o contraste e a visualização do material. Pessoas com dificuldades motoras podem usar engrossadores de lápis para facilitar a preensão.
  • Acesso ao computador e ao smartphone: há vários softwares de acessibilidade para computadores e smartphones. Alguns já vem de fábrica e outros podem ser instalados. Entre estes estão os leitores e ampliadores de tela, que favorecem a acessibilidade para pessoas com deficiência visual, e os softwares que associam símbolos a palavras e podem ser usados por pessoas com outras deficiências. Os sistemas operacionais também podem permitir diferentes configurações visuais, ajustes na sensibilidade do teclado, digitação por voz, controle com os olhos, entre outras possibilidades, favorecendo a interação de pessoas com diferentes características. Além disso, há diversos modelos de mouses adaptados, acionadores e órteses para digitação.

Alguns recursos de TA podem ser produzidos com material barato. O artigo “Confecção de material pedagógico acessível com foco na deficiência visual”, aborda essa produção no contexto educacional.  Outros recursos precisam ser adquiridos. Os preços variam de modo que muitos, como regletes, bengalas, relógios e calculadoras sonoras, até podem ser comprados por pessoas comuns, mas há recursos tão caros que costumam estar mais presentes em instituições. É o caso das linhas braile.

        Vale observar que oferecer tecnologia assistiva não basta para remover todas as barreiras encontradas pelas pessoas que precisam da TA, até porque isso requer várias outras ações de agentes diversos. Além do mais, nem sempre a pessoa tem o apoio necessário para aprender a usar o recurso. De qualquer forma, se bem aproveitados, os recursos de TA podem ampliar consideravelmente a autonomia e a inclusão social dos usuários.

Postagens anteriores sobre conceitos ligados à inclusão: