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Baixa visão e desafios sociais
Baixa visão e desafios sociais
Você conhece pessoas com baixa visão? Sabe de alguns desafios que elas podem enfrentar? Já ouviu falar sobre essa deficiência? Às vezes, a sociedade impõe barreiras a essas pessoas pela falta de conhecimento.
Esta edição do Fique por Dentro busca dialogar sobre alguns desafios vividos na baixa visão e sobre alternativas para minimizá-los.
A deficiência visual e as expectativas sobre a pessoa com baixa visão no senso comum
A maioria das pessoas parece pensar que deficiência visual se resume à cegueira e não sabe que há variações. Vamos lá: baixa visão é deficiência visual, mas a pessoa com essa condição não é cega. Ela tem visão residual, que é aproveitável em várias situações. Por outro lado, esse resíduo não é igual a visão de pessoas que enxergam. A depender do caso, recursos e cirurgias podem otimizar a visão até certo ponto, mas não lhes permitem enxergar totalmente.
Pelo desconhecimento sobre essa deficiência, por vezes a pessoa com baixa visão é tratada e cobrada ora como cega, ora como alguém que enxerga totalmente. Além das barreiras externas, a incompreensão, os constrangimentos sociais e a exclusão podem causar alguns conflitos, ansiedade, baixa autoestima e falta de aceitação. Também podem causar isolamento, prejudicar o senso de pertencimento e a pessoa pode ter dificuldade para encontrar referências com as quais se identifique. Aqui não se pretende dar respostas prontas. Acredita-se que a conscientização daqueles que convivem com a pessoa e dela mesma favoreceram o conhecimento sobre suas necessidades e que a interação com outras pessoas com baixa visão pode ajudar a fortalecer sua identidade. Quando possível, com certeza o apoio terapêutico também será muito benéfico.
Leia mais sobre as diferenças na deficiência visual na postagem “Cegueira x Baixa visão”. Obs.: atualmente, as pessoas com visão monocular também são consideradas como pessoas com deficiência visual para todos os efeitos legais (cf LEI Nº 14.126, DE 22 DE MARÇO DE 2021)
Condutas
Entre os constrangimentos relatados por pessoas com baixa visão estão as acusações de serem mentirosas ou aproveitadoras ao usarem a visão para realizar uma tarefa. Por isso, algumas evitam usá-la, mesmo quando podem. Há também pessoas que enfrentam descrédito quando a deficiência não é aparente. A deficiência visual nem sempre têm alterações oculares visíveis ou requer o uso de óculos, mas a sociedade parece entender mais se a pessoa usar óculos do que se explicar “preciso disso porque tenho baixa visão”. Lembremos que a visão residual é útil em vários contextos e a pessoa deve se beneficiar disso ao máximo. O uso da visão residual e a ausência de alterações oculares ou de óculos não indica ausência da deficiência nem anula os direitos e necessidades da pessoa.
Comparações
Há quem pense que a visão residual torna a vida de pessoas com baixa visão mais fácil que a de pessoas cegas, o que parece se basear apenas em aspectos biológicos. Também é comum colocar sobre uma pessoa expectativas com base na realidade de outra, o que não acontece apenas com quem tem baixa visão. As barreiras relatadas aqui talvez já permitam compreender que os desafios vão além da condição biológica. Além disso, a baixa visão varia muito de uma pessoa para outra e o desempenho visual da mesma pessoa muda ao longo do dia, entre um dia e outro, sob a influência de fatores externos, emocionais ou biológicos. Assim, a expectativa sobre uma pessoa deve se basear nela mesma. Algumas barreiras precisam ser removidas previamente. Porém, há outras que só serão removidas considerando as características da própria pessoa.
Recursos e estratégias
Pelo desconhecimento da família e da própria pessoa, esta é muitas vezes privada de abordagens que podem ajudá-la a otimizar o potencial de sua visão. Além disso, pode-se cair no engano de ofertar para pessoas com essa característica apenas recursos e estratégias que favorecem pessoas cegas. Vale ressaltar que os apoios para pessoas com deficiência visual não são sempre iguais, até porque há sentidos diferentes a serem explorados. Pessoas com baixa visão devem poder usar recursos e estratégias que explorem o tato, a audição e outros sentidos, mas também sua visão residual. É muito positivo e necessário que elas recebam estimulação visual e possam aprender a aproveitar o máximo da sua visão.
Em relação a acessibilidade à leitura, Cristiana Mello Cerchiari, em sua dissertação de mestrado intitulada “Deficiência visual e ensino/aprendizagem de língua estrangeira: subsídios para a formação inicial de professores em contexto universitário”, de 2011, argumentava que:
“Como as editoras não costumam comercializar livros em letra ampliada, esses alunos [com baixa visão] não dispõem de livros, mas de folhas avulsas, ao contrário dos alunos cegos, que contam com livros em Braille, disponibilizados por instituições especializadas, como a Fundação Dorina Nowill para Cegos, em São Paulo, e o Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro”. (p. 54).
Atualmente, as necessidades do público com baixa visão parecem ganhar espaço em documentos orientadores, palestras e cursos na área da acessibilidade e também ser contempladas nas configurações de vários softwares e sistemas operacionais. O IBC e a Fundação Dorina têm disponibilizado materiais ampliados e você pode saber mais nos links ao final do texto. No IFPB – campus João Pessoa, estudantes com baixa visão também têm acesso ao seu material em formato ampliado. Espera-se que esses sejam indícios de um aumento gradativo na visibilidade e no atendimento às necessidades desse público. Há, com certeza, um caminho a percorrer.
Certamente, as pessoas com baixa visão encontram muitos desafios além dos citados aqui. Ademais, pessoas com características diferentes enfrentam diversos impedimentos externos e conflitos internos. O conhecimento pode ajudar a todos nós a remover barreiras. Por isso, não deixe de buscar informação adequada e, principalmente, quando tiver oportunidade, conheça as próprias pessoas com deficiência.
Textos e links
A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DO ALUNO COM BAIXA VISÃO, de Ana Lúcia de Oliveira;
os alunos com deficiência visual: baixa visão e cegueira, de Celma dos Anjos Domingues e outros autores.
Dorinateca - biblioteca digital da Fundação Dorina Nowill para Cegos, que disponibiliza material ampliado como um dos formatos para download.
INformações sobre materiais grafotáteis e ampliados disponibilizados pelo IBC.