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Comunicação Acessível para Pessoas com Deficiência Visual nas Redes Sociais
Comunicação Acessível para Pessoas com Deficiência Visual nas Redes Sociais
Você já deve ter percebido a participação de pessoas com deficiência visual nas redes sociais e talvez já tenha até interagido com alguma delas, principalmente se ela é sua amiga, colega de trabalho, etc. Como elas usam as redes sociais parece óbvio: através de um software leitor de telas. Sabia que algumas não o usam? Se você costuma interagir com algumas delas, vocês já devem ter trocado emojis. Mas você já percebeu que elas não reagem a todos os tipos de mensagens? Será que isso acontece apenas pelo fator interesse? Sabia que elas podem não acessar algumas informações se não houver descrição e que cada rede social apresenta possibilidades diferentes de acessibilidade? Você já se perguntou o que os leitores de tela leem? Até que ponto as imagens nas redes sociais são acessíveis a esses softwares e qual a forma de torná-las acessíveis?
O Fique por Dentro desta semana aborda a comunicação acessível para pessoas com deficiência visual nas redes sociais e algumas alternativas para tornar as mensagens acessíveis a essas pessoas.
A comunicação nas redes sociais
Muito da comunicação formal ou informal acontece através das redes sociais. A mensagem nesses espaços é formada por áudio, texto e elementos como vídeos, desde os totalmente falados até aqueles que tem a mensagem totalmente visual; emojis, figurinhas, gifs, stikers, muito usados para complementar a expressão de emoção ou mesmo para divertir, e fotos, que podem registrar momentos informais ou formais, ilustrar campanhas e trazer textos, às vezes divulgando informações relevantes. Para tornar essa comunicação acessível a pessoas com deficiência visual há que se ter em conta a necessidade de alguns ajustes visuais para auxiliar pessoas com baixa visão e a acessibilidade das informações aos leitores de tela, usados por parte das pessoas com baixa visão e por pessoas cegas.
Ajustes visuais
Usuários com baixa visão podem utilizar largamente o resíduo visual em diversas atividades cotidianas, incluindo o uso das redes sociais. Para pensar na acessibilidade para pessoas com deficiência visual, não se pode negar esse aspecto. A informação precisa estar apresentada de forma limpa. Enfeites, pouco contraste, uso de fontes decoradas e outras elaborações podem atrapalhar a visualização e compreensão distinta das informações visuais para essas pessoas.
Leitores de tela
O leitor de telas, por meio de voz sintetizada, retorna para o usuário o que está na tela, isto é, uma voz “fala” para o usuário os comandos que ele está dando, lê os textos quando estão em formatos acessíveis, permitindo que o usuário utilize muitas funcionalidades e tenha autonomia na grande maioria das ações desenvolvidas no computador e no smartphone. Mas leitores de tela não falam o conteúdo de imagens.
Em relação aos elementos visuais comuns nas redes sociais, mencionados anteriormente, os emojis costumam ser descritos por leitores de tela na grande maioria das vezes, embora as descrições de alguns emojis possam não indicar o seu significado exato.
As fotos podem receber descrições automáticas em algumas plataformas, mas essas descrições são muito vagas e às vezes equivocadas. Nas redes em que há essas descrições, os textos nas fotos são lidos na maioria das vezes. Outras redes não geram nenhuma descrição automática das fotos nem identificação dos textos nelas presentes.
Quanto aos vídeos, se não tiverem audiodescrição, seu conteúdo é acessado, muitas vezes parcialmente, através do que é falado e pode ser complementado por meio da descrição de quem o mandou. O leitor de telas não tem nenhuma participação na compreensão do seu conteúdo.
Já stikers, gifs e outras figurinhas não são descritos. Na melhor das hipóteses, podem ter alguma indicação vaga do seu sentido, o que não acontece em todas as redes. O comum é que sua presença apenas seja avisada. Assim, quando o usuário de leitor de telas os localiza, ouve: “figurinha”, “gif”, “stiker”, “pacote tal de figurinhas de fulano”, etc, nada que informe claramente o que aquela figurinha significa na conversa. A pessoa que não consegue vê-la fica excluída dessa parte da interação. Quando recebe uma dessas figurinhas, não sabe qual a mensagem que se pretendia passar. Do mesmo modo, quando encontra uma foto em uma rede social que não gera a descrição automática, a pessoa ouve apenas “foto”, e a legenda, se houver. Assim, se não houver descrição, o público usuário de leitor de telas fica alheia ao que se está comunicando. No caso de ser um aviso, divulgação, etc., essas pessoas podem estar deixando de acessar informações que deviam receber. Por isso, na interação com pessoas com deficiência visual, as descrições são fundamentais.
Algumas dicas para tornar a comunicação acessível para pessoas com deficiência visual nas redes sociais
- Pergunte à pessoa: quando as postagens forem acessadas por todos, como fotos no feed do Instagram ou no Facebook, por exemplo, há medidas que podem ser adotadas para torná-las acessíveis de maneira geral, mas a deficiência visual é uma condição heterogênea. Nem tudo vai beneficiar a todas as pessoas. Por isso, na comunicação privada com uma pessoa com deficiência visual, pergunte o que a pessoa prefere. Se tiver dúvida ou se ela costuma não reagir a algum tipo de mensagem, como gifs, pergunte se ela consegue acessar o conteúdo desse tipo de postagem ou como fica melhor que as mensagens sejam enviadas para ela;
- Adequações visuais: se você produzir o texto ou a imagem, simplifique a informação, aumente o contraste figura-fundo, letra-fundo, evite cores muito chamativas, adote fontes sem serifa, como arial e verdana, amplie o tamanho da fonte, exponha a informação da maneira mais limpa, clara, objetiva, organizada, lógica , intuitiva, com poucos ou sem efeitos visuais, de maneira que os elementos apontem para o que significam de fato;
- Emojis: normalmente, o leitor de telas já faz a descrição, às vezes não apropriada, de emojis, mas evite inserir uma quantidade grande de emogis no início ou no meio de textos. Quando há uma sequência grande dos mesmos emojis, alguns leitores informam quantos emogis iguais aparecem, agilizando a leitura, mas outros leem emoji por emoji, o que sobrecarrega a mente de quem está ouvindo e torna a leitura cansativa. Ao criar grupos no Facebook, prefira não inserir muitos emojis nos nomes dos grupos. No Windows, o usuário de leitor de telas consegue pular rapidamente para a mensagem postada num grupo e os emojis nos nomes não são problema, mas nos smartphones a dinâmica da navegabilidade tem algumas diferenças, o usuário pode precisar ouvir o nome do grupo mais de uma vez para ouvir uma mensagem postada por um membro, o que torna a leitura mais demorada.
- Vídeos: ao enviar vídeos no privado para uma pessoa com deficiência visual, se estes não tiverem audiodescrição, opte ao menos pelos que têm conteúdo falado e complemente a informação numa mensagem à parte. Não faz sentido mandar vídeos apenas com música como o único som;
- Gifs, figurinhas, stikers: são parte da comunicação das pessoas que enxergam nas redes e não é razoável propor que sejam abolidos. Entretanto, se enviá-los para uma pessoa com deficiência visual, descreva o que significam ou permaneça nas mensagens de texto ou áudio;
- Faça a descrição de fotos: as descrições podem ser escritas no espaço para a postagem de texto, iniciadas pelas hashtags #pratodosverem e #pracegover, ou, nas redes que têm opção de inserir texto alternativo, escritas no espaço destinado a esse fim. Em um contexto mais informal e quando possível, as descrições podem ser feitas através de áudios. Para elaborar a descrição, principalmente num contexto mais formal, não emita opiniões, não faça observações desnecessárias, inclua o suficiente para que a foto seja compreendida. Em geral, pense: o que está sendo mostrado? O que ou quem aparece na imagem? Em que ordem as pessoas aparecem (por exemplo, da esquerda para a direita)? O que as pessoas estão fazendo? Qual o cenário? O que é importante para a compreensão dessa imagem no contexto onde foi gerada? Qual seria a forma de passar essa informação se não houvesse a imagem? Quando possível, insira as características físicas e descreva também as vestimentas. Se houver um texto na imagem, pode iniciar a descrição informando o gênero? Banner, cartaz, etc. Mencionar as cores, os elementos que aparecem em ordem, por exemplo, descrever primeiro o que aparece à esquerda, depois, o que aparece à direita, e inserir o texto da imagem.
As possibilidades de acessibilidade nas redes sociais varia um pouco, como se observa abaixo:
- Whatsapp: no Whatsapp, até a produção deste texto, não se soube da possibilidade de ativação de algum recurso que fizesse minimamente a descrição de imagens ou leitura de textos nas fotos. A alternativa continua sendo fazer a descrição à parte e enviar junto à foto. Não há descrições de gifs, figurinhas, stikers, etc.
- Instagram: as descrições das fotos podem ser inseridas na legenda, o que beneficia pessoas com baixa visão que não usam leitor de telas e ajuda a divulgar a audiodescrição. Também podem ser inseridas no espaço para o texto alternativo, presente no menu Configurações Avançadas, na tela anterior à conclusão da postagem. A descrição será ouvida por cegos e com baixa visão usuários de leitores de tela, mas não será acessada por pessoas com baixa visão que não usam leitor de telas. Se não houver sido feita nenhuma descrição alternativa, o leitor de telas lê uma descrição vaga da imagem, em inglês. Se houver texto na imagem, na maioria das vezes, ocorre o reconhecimento do texto, mas após algumas informações em inglês.
- Facebook: no artigo Acessibilidade Digital - Adicionando audiodescrição com texto alternativo em imagens (link no final da postagem), Lucas Cazagranda explica como inserir descrições alternativas nas fotos do Facebook. Durante a produção desta postagem, nos testes realizados, infelizmente não foi possível fazer isso usando leitores de tela, como acontece no Instagram, mas vale a dica para as pessoas que enxergam. Na ausência das descrições alternativas feitas pela pessoa que está postando as fotos, ao passar por estas, o leitor de telas lê em português descrições vagas de imagens, como por exemplo: “a imagem pode conter uma pessoa, céu e atividades ao ar livre”, “a imagem pode conter duas pessoas, livro e área interna”; “a imagem pode conter uma pessoa, em pé, sapatos e atividades ao ar livre”. É verdade que também já consegue fazer boas leituras de textos nas fotos, na maioria dos casos. Já os stikers podem ter alguma palavra associada, mas que expressa muito vagamente a intenção da pessoa que mandou. Para se ter uma ideia, um exemplo do que se pode ouvir quando um stiker tem uma palavra associada é “stiker love”.
Vá em frente: pesquise mais!
As indicações a seguir podem ajudar você a compreender mais sobre comunicação acessível. Procure mais informações, vá aprendendo inclusive com as próprias pessoas com deficiência visual e, passo a passo, torne suas redes mais inclusivas.
Fique por Dentro!
- Acessibilidade Digital - Adicionando audiodescrição com texto alternativo em imagens. Disponível em: https://pt.linkedin.com/pulse/acessibilidade-digital-adicionando-audiodescri%C3%A7%C3%A3o-com-cazagranda.
- NOTA TÉCNICA Nº 21 / 2012 / MEC / SECADI /DPEE. Orientações para descrição de imagem na geração de material digital acessível – Mecdaisy. Disponível em: http://www.portaldeacessibilidade.rs.gov.br/uploads/1385029971nota_tecnica_21_mecdaisy.pdf.
- Manual de acessibilidade em documentos digitais. Instituto Federal de Educação, Ciência eTecnologia do Rio Grande do Sul. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1prnE3MJfTsxARpWR2cOLbWmtK3x6aLNt/view