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Deficiência e dificuldades de expressão verbal: alternativas para promover a comunicação
Há deficiências cujos comprometimentos associados consistem em restrição ou ausência de expressão verbal. A associação entre essa condição e a falta de estratégias alternativas de comunicação acarretam exclusão dentro e fora do ambiente educacional. Para responder a essas situações, há um diversificado conjunto de recursos e estratégias alternativos de comunicação, chamados de comunicação alternativa (CA).
O Fique por dentro desta semana aborda brevemente as dificuldades de expressão verbal e a importância da comunicação alternativa para responder a elas. Outras postagens se aterão aos recursos propriamente ditos e à sua utilização.
Quem é público alvo da CA?
Como já mencionado, a CA se destina a pessoas com ausência ou defasagem na expressão verbal, isto é, que não falam ou não conseguem falar ou escrever de maneira compreensível. Muitas pessoas com essa característica desenvolvem algumas estratégias próprias de comunicação, compreendidas pelas pessoas que lhe são próximas, mas em geral podem estar sujeitas à privação de trocas comunicativas mais amplas e elaboradas.
As dificuldades de expressão verbal podem decorrer de fatores neurológicos, cognitivos, emocionais ou físicos. Assim, podem ser público alvo dos recursos de CA alunos com deficiências físicas que acarretem dificuldades de fala, com paralisia cerebral, com deficiência intelectual, surdos, surdocegos, com síndromes ligadas a transtornos invasivos de comportamento, disléxicos, com dificuldades específicas na leitura, etc.
O que é comunicação alternativa?
É um conjunto de recursos e estratégias que visam a compensar a ausência de expressão verbal funcional.
Os recursos de comunicação alternativa também são chamados de recursos de comunicação alternativa e aumentativa (CAA), comunicação ampliada e alternativa, comunicação suplementar e alternativa (CSA) ou simplesmente comunicação alternativa, designação adotada neste texto.
A comunicação alternativa pode ocorrer:
- Sem auxílios externos: através de possibilidades alternativas de expressão da própria pessoa, como emissão de sons, gestos, expressões corporais e faciais. As línguas de sinais também são modos de comunicação alternativa.
- Com auxílios externos: através da associação das possibilidades do próprio usuário a recursos como a escrita, nos casos de defasagem na fala. Ampliando essas alternativas, existem recursos especificamente desenvolvidos para promover comunicação alternativa, que podem ser de baixa ou alta tecnologia.
Por que adotar a CA?
A primeira razão, evidentemente, é a promoção e o desenvolvimento da própria comunicação e as implicações para a vida do usuário.
A comunicação é fundamental para o desenvolvimento individual e social, permite alimentar vínculos afetivos e sociais, expressar necessidades, sonhos, vontades, aprender pelas trocas sociais, participar ativamente do meio e da sociedade, etc.
No ambiente educacional, além de favorecer a relação com colegas e demais membros da comunidade acadêmica, a CA permite ao aluno usuário participar ativamente da aula, contribuir com os diálogos, revelar sua compreensão do conteúdo, suas hipóteses, dúvidas, etc., possibilitando ao professor auxiliá-lo a amadurecer ou reformular a compreensão construída sobre o conteúdo e avaliá-lo.
Além disso, o uso da CA mobiliza resíduos de habilidades sensoriais, cognitivas, emocionais e motoras do usuário, beneficiando-o nessas áreas.
Por seu turno, a restrição ou ausência de comunicação desencadeiam isolamento, prejuízos emocionais, sociais e de aprendizagem. Dessa forma, situações de comunicação incipientes ou nulas podem comprometer o próprio desenvolvimento da comunicação do indivíduo e, em consequência, o seu repertório de conhecimentos.
Outras perguntas sobre dificuldades de expressão e CA
- A comunicação alternativa deve ocorrer apenas em contextos específicos, como ambientes de aprendizagem ou terapias? Não. Para que seja aprendida e eficaz, a comunicação alternativa deve ocorrer em situações de comunicação não artificiais e diversificadas. Os recursos devem ser usados em todos os contextos possíveis, exceto naqueles em que a fala residual do indivíduo é compreendida pelos interlocutores.
- Quem deve aprender a usar os recursos de CA? Todos que convivem e podem interagir com a pessoa, independentemente do contexto. Se os interlocutores não dominam a mesma forma de comunicação, seja ela qual for, não há comunicação.
- Após a adoção dos recursos de CA, o trabalho para desenvolver a fala deve ser interrompido? Não. O emprego da CA deve ser concomitante a todos os outros estímulos empreendidos para desenvolver a fala do usuário.
- Por quanto tempo a CA deve ser mantida? Isso varia conforme perduram as dificuldades do usuário. Dificuldades de fala podem ser temporárias ou permanentes. Nos casos de dificuldades temporárias, o uso dos recursos de CA perdura apenas enquanto persistem as dificuldades de fala funcional. Há outros casos em que a defasagem não é eliminada o suficiente para retirar a CA.
- A utilização da CA prejudica o desenvolvimento da fala? Não. O uso de recursos de CA amplia a competência comunicativa e, ainda que indiretamente, o desenvolvimento da fala.
- Como a CA favorece o desenvolvimento linguístico do usuário? O próprio fato de promover a comunicação dá alguns indícios. Além disso, pode-se destacar que os interlocutores servem como modelos de comunicação para o usuário, ajudando-o a compreender não apenas que pode expressar o que desejam através dos símbolos (muito utilizados na CA), mas também qual o símbolo mais adequado para expressar uma informação específica; também o ajudam a ampliar o vocabulário e as possibilidades de expressão com o recurso, mostram-lhe as regras de comunicação como respeito aos turnos de fala, etc. Quanto mais os interlocutores se engajam na iniciativa e compreendem adequadamente como os recursos funcionam, mais esse processo é eficiente.
- Quem implementa os recursos de CA? No ambiente educacional, os recursos de CA são selecionados e implementados a partir da parceria entre profissionais do atendimento especializado, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta e psicólogo. A família e o próprio usuário são fundamentais nesse processo. A família conhece possibilidades e estratégias cotidianas já adotadas pelo usuário, valorizadas na escolha e confecção dos recursos. O usuário é a pessoa mais indicada para apontar os recursos mais adequados a suas necessidades e preferências.
Acompanhe o Fique por Dentro! Em outras postagens serão abordados os recursos de comunicação alternativa propriamente ditos, bem como orientações úteis para a sua utilização e interação com o usuário de CA.
Fique por dentro!