Por muito tempo, algumas concepções alimentadas sobre o que conhecemos hoje como deficiência intelectual parecem ter contribuído para sedimentar, no senso comum, o entendimento de que deficiência intelectual e doença mental são o mesmo fenômeno. Dentre os fatores que alimentaram esse entendimento estão, possivelmente, a concepção de que deficiência é uma doença, assim como o emprego corrente da expressão "deficiência mental", usada até poucos anos para fazer referência ao fenômeno que hoje chamamos de deficiência intelectual.

Nesta edição do fique por dentro, vamos refletir um pouco sobre cada uma dessas condições e analisar brevemente o que as diferencia.

 Considerações iniciais

Deficiência intelectual (DI) é uma especificidade ligada a condições genéticas ou outros fatores que ocasionaram alterações no desenvolvimento cerebral da pessoa no período intrauterino, no parto ou nos primeiros anos de vida. A DI, portanto, não é uma doença, mas diz respeito ao desenvolvimento que ocorreu de maneira diferenciada, manifestando-se necessariamente no período até os 18 anos de vida. Pessoas com essa especificidade apresentam diferenças significativas em áreas como comunicação, comportamento, auto-cuidado, vida no lar, segurança e saúde, raciocínio, resolução de problemas, aprendizagem, entre outras, sendo as diferenças observadas em pelo menos duas dessas áreas. O desenvolvimento de pessoas com DI nas áreas envolvidas fica abaixo da média esperada para a sua faixa etária, o que não significa que sua condição é estática.

Por seu turno, a doença mental, mesmo quando favorecida por fatores genéticos ou ambientais, não diz respeito à constituição do sujeito, a condições que contribuíram para que seu desenvolvimento fosse "desenhado" de maneira diferente. A doença mental se manifesta, não raramente, em adultos, podendo ser desencadeada por stress intenso ou outros fatores. A pessoa com doença mental apresenta alterações que consistem em anormalidades, sofrimentos ou comprometimentos de ordem psicológica e/ou mental, mudanças significativas na personalidade ou no comportamento, sem uma razão aparente. A doença mental altera o relacionamento da pessoa com o mundo, impacta seu funcionamento nos campos interpessoal, laboral e social. 

Observação: alguns fatores ligados a mudanças de comportamento por algum tipo de stress não são necessariamente doenças mentais. A doença mental pode não estar ligada unicamente aos sintomas que a caracterizam, mas à gravidade, ao impacto e à duração dessas consequências na vida do indivíduo, podendo haver doenças que se manifestam através de sintomas leves, mas por um longo período de tempo, e doenças que se manifestam em períodos curtos, mas de natureza grave, com impactos significativos no que se refere ao distanciamento do indivíduo do seu comportamento natural. Além disso, importa observar que nem todas as mudanças de comportamento e/ou personalidade são causadas por doenças mentais.

Algumas intervenções possíveis

A deficiência intelectual demanda algumas intervenções não apenas de auxílio para o desenvolvimento das atividades cotidianas, mas para a potencialização da sua capacidade intelectual, o que pode ser apoiado e favorecido por um trabalho colaborativo entre família, escola e profissionais especializados, que mobilizarão uma série de estratégias para ampliar o desenvolvimento da pessoa com DI nas diversas áreas da sua vida e não apenas na área acadêmica. Quanto às intervenções relacionadas às doenças mentais, estas podem ser tratadas com terapia somática (que inclui medicamentos e outras intervenções) e psicoterapia, ambas avaliadas e prescritas por especialista.

É fundamental, seja qual for a condição (DI ou doença mental) buscar o apoio específico necessário, bem como acolher e apoiar a pessoa que vivencia a condição.

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