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Interação com pessoas com deficiência: aproximação e condutas simples

O Fique por Dentro desta semana traz considerações e medidas importantes para interagir com pessoas com deficiência, tanto no dia a dia, quanto ao encontrá-las pela primeira vez.
por publicado: 23/10/2019 13h44 última modificação: 23/10/2019 13h44

As pessoas com deficiência (PcDs) conquistaram direitos e a efetivação de medidas, têm ido além do ambiente do lar e de espaços específicos e participado de diversos contextos sociais, mas a sociedade ainda não as vê como pessoas plenas e cidadãos. Muitos não sabem se relacionar com elas e as veem com reservas e estranhamento. Alguns as infantilizam; outros entendem que alguém deveria tutelá-las e que elas deveriam estar apenas em casa e em espaços destinados a elas. Há ainda os que sentem insegurança ou medo, paralisam ao precisarem falar com elas e não sabem como agir. Em parte, isso se explica pelo afastamento que houve por muito tempo entre a sociedade e as PcDs. Mas tais barreiras podem ser superadas com a abertura para conhecer o outro, o bom senso e ações simples.

O Fique por Dentro desta semana traz considerações e medidas importantes para interagir com pessoas com deficiência, tanto no dia a dia, quanto ao encontrá-las pela primeira vez. Confira:

  • Pessoas com deficiência são pessoas – já se dialogou sobre isso no Fique por Dentro, mas parece indispensável repetir. O relacionamento com alguém com deficiência é o relacionamento com uma pessoa, não com um super herói, nem com um ser inferior ou com um robô, mas com alguém plenamente humano. Ademais, cada pessoa é única. Para além de especificidades, como as características de uma deficiência, toda pessoa tem personalidade, índole, sentimentos, desejos, sonhos, talentos, dificuldades e reage à sua maneira a esses fatores e às próprias vivências. O relacionamento com cada pessoa também é único. A relação amistosa ou turbulenta com uma pessoa que tem uma deficiência não indica que a relação com todas as outras pessoas com a mesma deficiência será igual.

  • Interaja com a pessoa com deficiência – muitas PcDs são isoladas já nas interações sociais. Fale com a pessoa, cumprimente-a, pergunte como está, despeça-se. Mas vá além do mecanicismo. Conheça a pessoa no dia a dia, vá descobrindo sua personalidade e maturidade, a liberdade que você pode ter, em que conversas ela se envolverá, etc. Fale sobre diferentes assuntos, conforme a afinidade que ela tiver com os mesmos, dê atenção ao que ela disser, argumente com ela. Perceba que são conversas naturais e que, com o tempo, serão iniciadas espontaneamente por você, por ela, pelos demais.

  • Trate as pessoas com deficiência conforme sua faixa etária – é comum PcDs serem abordadas de maneira infantilizada, independentemente da idade que tenham, mas, a menos em casos em que a especificidade impacta o desenvolvimento da personalidade, a deficiência não desencadeia imaturidade. Prejuízos à personalidade e emocionais estão muito mais ligados à interação da sociedade com essas pessoas e às vivências sociais do que propriamente à deficiência.

  • Fale com a pessoa o que precisar dizer ou perguntar sobre ela, mesmo que ela esteja acompanhada: é muito comum que perguntas ou interpelações que seriam dirigidas à pessoa com deficiência sejam feitas ao seu acompanhante, mesmo quando elas podem se comunicar diretamente. Não adote essa conduta. Se você precisa perguntar, elogiar, informar, reclamar, cobrar ou falar qualquer outra coisa para a pessoa e ela está presente, dirija-se a ela. A pessoa pode e deve responder por si e não precisa ser tutelada pela sua família ou por profissionais que lhe ofertem apoio. Além disso, é extremamente desagradável para a pessoa com deficiência ouvir perguntas sobre ela, como o que ela deseja, prefere ou precisa, feitas a outra pessoa quando ela está presente e pode responder por si.

  • Dirija-se à pessoa com deficiência, mesmo em casos em que houver alguém mediando a comunicação - fale diretamente com a pessoa, olhando para ela, dirigindo-se a ela, ainda que a comunicação seja mediada por um intérprete, amigo, familiar ou outra pessoa. O diálogo é entre você e a pessoa com deficiência, não é entre você e o acompanhante. O intérprete ou acompanhante media a comunicação, transmite sua mensagem para a PcD, se ela não puder apreendê-la, e transmite a resposta dela para você. Isso não significa que você não pode conversar com o acompanhante. Pense: “se essa pessoa não tivesse deficiência, eu diria isso a ela ou a à pessoa que a acompanha?” Se você concluir que falaria diretamente a ela, então faça isso e recorra ao acompanhante ou intérprete para auxiliar na comunicação.

  • Aprenda a usar os recursos e estratégias comunicativos que a pessoa utiliza para se comunicar diretamente com ela – algumas pessoas se comunicam através de comunicação alternativa (CA), já apresentada no Fique por Dentro* e que será abordada novamente. A CA acontece por meio de diferentes recursos e estratégias como a LIBRAS, gestos, sons, escrita, softwares de computador e outros recursos, de acordo com a necessidade da pessoa. Aprender a usar o recurso que ela utiliza proporciona um contato mais direto, pessoal e independente: uma conversa entre amigos terá privacidade; o professor poderá tratar com o aluno aspectos do conteúdo de maneira mais fluente, ajudar o profissional que dá suporte ao aluno a construir o vocabulário para o conteúdo e terá melhores condições de avaliar o aluno; em diferentes situações, a comunicação será possível sem o auxílio de outra pessoa. Com o tempo e a proximidade, o que a pessoa deseja dizer poderá ser compreendido mais naturalmente. Você pode aprender a usar o recurso de CA com familiares da pessoa, amigos, profissionais que lhe prestem apoio e outras pessoas próximas.

  • Finalmente, abra-se para o relacionamento com a pessoa com deficiência, conheça-a - você não pode saber, instantaneamente, tudo sobre como lidar com pessoas com deficiência, nem mesmo tudo sobre a pessoa que está diante de você. Para compreender quem ela é, como tratá-la, ajudá-la e interagir com ela, conheça-a! Rompa com o estranhamento, fale com a pessoa e com os que se relacionam com ela. Como você faz com as outras pessoas, vá conhecendo a cada dia sua personalidade, caráter e maturidade, além das suas necessidades específicas. Observe o que ela diz sobre a própria realidade e como essas informações se materializam na vida dela. Isso, talvez, desconstrua muitas concepções que você tinha e pode trazer muito aprendizado. O convívio com PcDs é uma novidade para muitas pessoas e o novo traz insegurança, mas encoraja-se a todos a interagir com as PcDs, ou não será possível conhecê-las.

* Deficiência e dificuldades de expressão verbal: alternativas para promover a comunicação: http://www.ifpb.edu.br/assuntos/fique-por-dentro/deficiencia-e-dificuldades-de-expressao-verbal-alternativas-para-promover-a-comunicacao.

Fique por Dentro!