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Textos acessíveis para pessoas com deficiência visual
Esta edição do Fique por Dentro traz algumas dicas para tornar documentos digitais acessíveis e colaborar com a produção de impressos acessíveis.
Textos acessíveis para pessoas com deficiência visual
Por Juliana Dantas Galdino da Silva
Sabia que você pode produzir documentos digitais acessíveis e também facilitar a produção do material impresso acessível?
Esta edição do Fique por Dentro traz algumas dicas para tornar documentos digitais acessíveis e colaborar com a produção de impressos acessíveis.
Deficiência visual e leitura de documentos digitais e impressos
Pessoas com deficiência visual podem ler em Braille ou usar leitor de telas, navegando com teclado. Pessoas com baixa visão podem ainda ler impressos ampliados, usar a visão residual, recursos de alto contraste e ampliadores de telas. Textos digitais acessíveis têm configurações visuais bem distinguíveis e ajustáveis, sequência lógica na navegação pelo teclado e se adequam aos leitores de tela. Note que os leitores de tela anunciam alguns elementos, como links e estilo da fonte, mas não informam cor automaticamente, ignoram caixas de texto, nem sempre leem tabelas confortavelmente, não leem notas de rodapé automaticamente em alguns documentos e não descrevem imagens. Impressos ampliados também são ajustados às características visuais das pessoas, assim como impressos em Braille são ajustados à leitura tátil. Seguem dicas para tornar documentos digitais acessíveis e para facilitar a produção dos impressos acessíveis.
Dicas para tornar arquivos digitais acessíveis
- Quando possível, pergunte à pessoa qual o melhor formato e, se for o caso, quais as configurações visuais adequadas.
- Para tornar a visualização acessível: use fontes limpas, sem cerifa, como Arial e Verdana. Evite as fontes decoradas, distorcidas ou cursivas e evite colocar frases ou parágrafos em itálico. Aumente também o contraste, facilitando a leitura para todos. Exemplos de bons contrastes são letra preta e fundo branco, letra branca e fundo preto e letra amarela e fundo preto, mais indicados para alguns tipos de baixa visão, e de contrastes ruins: letra verde limão e fundo amarelo, letra branca e fundo amarelo, letra branca e fundo azul anil. Lembrando que a relação mínima de contraste é 4,5:1 e que o contraste é otimizado a partir da relação 7:1. Ao expor um slide, aumente o tamanho da fonte e da imagem conforme a necessidade da pessoa. Facilite a leitura e ampliação de textos pequenos inserindo poucas informações por slide. Use bons contrastes entre o primeiro plano e o plano de fundo e evite fundo decorado ou com imagens.
Para facilitar a leitura com leitor de telas e a navegação com teclado:
- Insira sumários com hiperlinks, facilitando a localização de capítulos e subcapítulos para todos. Salton et al (2017, p. 60-61) mostra como inserir sumário no Word, Writer e Documentos Google. Além disso, use os estilos para indicar a hierarquia do conteúdo. Coloque o título principal em nível 1, subtítulos em nível 2, etc. (cf. Salton et al, p. 40).
- Nunca insira informações apenas através de imagem. Traga alternativas textuais.
- Sempre traga a referência da obra textualmente, nunca apenas numa imagem. Às vezes, temos dificuldade para citar alguns capítulos, artigos de revistas, entre outros, e incluí-los nas referências do trabalho que estamos produzindo por não localizar os dados da referência.
- Informe textualmente o início e o fim de citações.
- Ao concluir o texto em uma página e retomar na seguinte, use a quebra de página, pois, ao passar por várias linhas em branco, o que o leitor de telas diz é “em branco” e nós ficamos sem saber quantas setas pressionar para chegar à próxima página.
- Insira links com descrições que informem claramente o seu destino, nem mais, nem menos. Ex: link bem descritivo: "edital do PSCT 2021.2. Link com excesso de informações: "link para acessar o edital do PSCT 2021.2". As expressões "clique aqui para" ou "link para" são desnecessárias. Link com descrição insuficiente: "edital". Veja como nomear hiperlinks no Word, Writer e Documentos Google em Salton et al (p. 53-55).
- Descreva as imagens, principalmente as que têm conteúdo importante, o que favorece pessoas cegas, com baixa visão ou com dificuldade de compreender imagens ou gráficos. Consulte Salton et al (p. 43-52; 69-74; 78-83) e as outras referências.
- Não indique notas de rodapé com asteriscos ou pontos, mas como notas. Assim, saberemos que há uma nota no final da página e vamos alterar a navegação para ler. Caso a pessoa prefira, indique textualmente o início e o fim da nota.
- Não mescle células em tabelas: leitores de tela podem não lê-las adequadamente. Para modificar o layout do documento, opte por bordas em vez de tabelas ou caixas de texto. Salton et al (p. 56-57) explica como fazer isso no Word e no Writer.
- Em planilhas, evite células vazias, pois os leitores de tela não falam nada e parece que não há mais informação na tabela. Defina células de cabeçalho para que os leitores de tela as associem adequadamente às células de conteúdo. Leia como inserir cabeçalhos no Excel em Salton et al, (p. 83-84). Ademais, adicione uma tabela por planilha. Separe-as em arquivos diferentes ou guias de planilha para não comprometer a compreensão das associações de tabelas, nomeie-as adequadamente e exclua guias em branco para facilitar a navegação e a compreensão do conteúdo de uma pasta de trabalho. Salton et al mostra como renomear e excluir guias de planilha no Excel, no Calc e no Planilhas (p. 86-90).
- Em slides: use os layouts existentes nos softwares. Leia como encontrá-los no Power Point, Impress e Apresentações Google em Salton et. al. (p. 64-66). Evite animações, que distraem ou confundem usuários de leitores de tela ou com dificuldades de concentração e podem ser incômodas para pessoas autistas. Use conteúdos multimídia acessíveis, ofereça alternativas em texto ou áudio para vídeos sem audiodescrição. No Power Point, verifique a ordem de tabulação, que define a ordem em que o leitor de telas lê as informações. Veja Salton et al (p. 75-77).
- Use verificadores de acessibilidade e ferramentas de produção de documentos acessíveis, disponíveis em alguns softwares de edição, e verificadores de contraste e simuladores de daltonismo disponíveis online.
- Salve em formatos acessíveis: são exemplos deles TXT, Doc/docx, rtf, odt e pdf gerado a partir de documento digital acessível. Alguns arquivos de planilhas, slides e imagens nem sempre são acessíveis, como nos formatos jpeg e png. Veja como salvar em pdf acessível em Salton et al (pp. 93-95).
Obs. A maior parte das dicas acima foi adaptada de Salton et al (2017, p. 38-106). Acrescentamos outras relacionadas à vivência de amigos e à nossa própria.
Textos impressos ampliados
As configurações do impresso ampliado são personalizadas conforme a necessidade da pessoa que vai recebê-lo. Domingues et. al. (2010), explica que na escola, as adequações podem ser testadas até que se encontrem as que mais favorecem o estudante. Devem-se ajustar o tamanho da fonte, que não deve ser maior que 28, o tipo da fonte, o espaçamento entre caracteres, palavras e linhas e o tamanho das margens. O texto pode ser impresso em negrito e os títulos e subtítulos podem ser destacados. Caso favoreça o campo visual do estudante, o texto pode ser dividido em colunas. As imagens também devem ser ampliadas e podem ter os traços destacados. Podem ser inseridas no espaço correspondente ao texto original ou virem em anexo. Também se deve atentar para as características do papel, que deve ser fosco. (cf. DOMINGUES et al, 2010, p.13-20). Pode haver estudantes que não precisem de ampliação. O importante é entender qual a necessidade de adaptação visual de cada estudante e promover as adequações.
Textos impressos em Braille
As próximas considerações servem para explicar as poucas dicas do último parágrafo.
A produção de um material em Braille envolve várias adaptações para ser fiel ao original e permitir compreensão e rápida localização das informações. Deve ser feita por uma equipe de profissionais qualificados (BRASIL, 2018, p. 19; 93-94). Inclui eliminar incorreções no texto, adaptar e/ou descrever conteúdo imagético, inserir sinais específicos, inclusive em textos de exatas, digitar as fórmulas e inserir códigos de formatação para a impressão adequada, pesquisar sobre o conteúdo para fazer uma adaptação fiel, etc. Ademais, de acordo com Brasil, (p. 23) “Os textos produzidos em Braille devem ser submetidos a, no mínimo, uma revisão, que deve ser realizada por um profissional cego, usuário do Sistema Braille e com bons conhecimentos de, pelo menos, uma de suas áreas de aplicação e por um assistente vidente.”.
Na escola, se o material é grande, complexo ou se o setor está sobrecarregado, o estudante vai demorar para recebê-lo. Recomenda-se aos professores enviá-lo com antecedência. Além disso, o professor conhece o conteúdo do material e pode ajudar os profissionais mostrando qual o significado do conteúdo imagético.
Referências:
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Normas Técnicas para a Produção de Textos em Braille . elaboração: DOS SANTOS, Fernanda Christina; OLIVEIRA, Regina Fátima Caldeira de – Brasília-DF, 2018, 3ª edição. 120p. Disponível em: Normas Técnicas para a Produção de Textos em Braille - arquivo em pdf
DOMINGUES, Celma dos Anjos et al. A educação especial na perspectiva da inclusão escolar: os alunos com deficiência visual: baixa visão e cegueira. Brasília: MEC/SEE, 2010.
Instituto Federal da Paraíba. A audiodescrição e o uso dos seus princípios nas descrições informais (página). 2021.
SALTON, Bruna Poletto; AGNOL, Anderson Dall; TURCATTI Alissa. Manual de Acessibilidade em Documentos Digitais. Bento Gonçalves, RS: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, 2017. Disponível em: Manual de Acessibilidade em Documentos Digitais - arquivo em pdf