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Projeto irá recontar a história de Cajazeiras

Personagens ‘silenciados’ ganharão voz através de livro organizado por professora de história e alunos do IFPB.
por publicado: 19/12/2016 08h44 última modificação: 19/12/2016 08h49

O projeto de Extensão “Patrimônio Material e Imaterial de Cajazeiras: Memórias Sertanejas, Histórias de uma terra que ensinou a Paraíba a ler”, aprovado em agosto deste ano, por meio do Programa Integrador – Escola Comunidade – PIEC 2016, da Pró-reitoria de Extensão e Cultura (PROEXC/IFPB), vem realizando ações que têm contribuído para encurtar ainda mais a distância entre o IFPB/Campus Cajazeiras e a população, proporcionando a troca de saberes e dando voz a cidadãos através do registro histórico de suas memórias.

A iniciativa, de acordo com a professora Valéria José Silva Santos, coordenadora do projeto, visa recompor a história de Cajazeiras a partir da fala dos ‘silenciados’ – das memórias relativas a personalidades conhecidas na cidade, a exemplo do pão de Saora; ou anônimas como as louceiras; os assentados da reforma agrária que produzem o mel e as sementes da paixão, entre outros. Essas falas, captadas através de entrevistas, serão reunidas no livro “Memórias de uma terra que ensinou a Paraíba a ler: patrimônio material e imaterial de Cajazeiras”, que será apresentado à comunidade no próximo dia 21/12, durante a programação comemorativa do aniversário de 22 anos do IFPB Campus Cajazeiras.

No total, onze alunos e três professores participam da atividade, sendo a maioria dos estudantes do Curso Técnico Integrado em Informática (2º ano) e os demais dos cursos de Desenho de Construção civil (PROEJA), Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Automação Industrial. Segundo a professora Valéria, a equipe foi se constituindo à medida que o trabalho foi avançando, e o projeto foi fruto de um conjunto de descobertas que começou apenas como uma pesquisa de campo.

“Eu trabalho com memória há quase seis anos e já pensava em fazer um projeto como este. Ao chegar a Cajazeiras achei as casas, as construções muito belas. Então, ao iniciar minhas aulas com a turma de Desenho de Construção Civil (PROEJA), propus à turma de fazermos uma pesquisa de campo para conhecermos o patrimônio arquitetônico da cidade e mostrar a eles o valor da memória preservada para a história. Decidimos fotografar a cidade, a feira, depois começamos a trabalhar com os sujeitos que ocupavam aqueles espaços... e nisto o trabalho foi ganhando vulto e mais alunos se envolveram na pesquisa que se transformou em projeto, graças ao PIEC.

Foram entrevistadas 12 pessoas, mas, segundo a equipe, nenhuma entrevista estava pré-definida. “Fomos conhecendo os personagens conforme íamos pesquisando. Foi ouvindo as histórias que chegamos aos filhos do padeiro Saora, que já faleceu, mas deixou como legado o pão mais famoso da cidade; ao bolo de caco de dona Luza, às louceiras que vivem da arte do barro, ao Antônio Sapateiro, à dona Nelsa, Líder da Central das Associações de Assentamentos do Alto Sertão Paraibano, o artista plástico Modesto, entre outros”.

Cajazeiras é conhecida como a “Terra de Padre Rolim”, título que inquietou  a idealizadora do projeto, pois, segundo ela,  a história não pode ser feita só por um sujeito. “Mas o que acontece é que muita gente não tem voz. A importância de trazer à superfície esses sujeitos silenciados é fazer com que eles e os seus semelhantes se sintam pertencentes à história de Cajazeiras, sob uma nova perspectiva”, contou Valéria.

Segundo Maria Vitória Mendes Batista, que cursa o segundo ano do curso técnico Integrado em Informática, essa nova perspectiva perpassa por uma desconstrução “é desconstruir a história que já temos, e construir uma nova que conta com outros sujeitos históricos”. Na fala de alguns colegas de Vitória, é possível notar o quanto puderam aprender e já conseguem ensinar graças ao trabalho voluntário no projeto.

“Minha visão sobre Cajazeiras e a vida em geral mudou. Antes eu era mais restrito ao meu ambiente de estudo, minha família. Aprendi muito com esse projeto, com as pessoas e suas memórias, a exemplo de um dos entrevistados, o artista plástico Modesto. Ele trabalhava com arte desde criança, aprendeu na prática o seu ofício e depois, por ser coroinha, conseguiu ir estudar artes na Itália por intermédio de um padre. Uma história incrível que eu não conhecia e vou ajudar a contar”, afirmou Gabriel Alves.

“Me chamou a atenção que muitos desses sujeitos que entrevistamos e que representam tão bem a história, o patrimônio material e imaterial de Cajazeiras, não são Cajazeirenses, mas ‘Cajazeirados’. Seu Saora, que como diz o povo daqui, criou o melhor pão do mundo; dona Luza, que faz o tradicional bolo de caco, são pessoas de fora que se estabeleceram aqui. O que mostra que esta terra é também uma ótima anfitriã”, lembrou Willian dos Santos Silva.

A professora Valéria afirmou que o grande desafio do projeto foi fazer história dentro de um centro tecnológico como o IFPB. “Hoje o homem se deixa levar pela tecnologia, quando quem demanda por tecnologia é a sociedade. Os valores estão invertidos. Muitas vezes a cultura local fica em segundo plano, esquecida, em detrimento deste ‘boom’ tecnológico que vem de fora. Me sinto privilegiada por desenvolver este projeto aqui e vejo que já está dando frutos, pois os alunos envolvidos compreenderam a máxima de preservar para ser bons ancestrais”. De acordo com a coordenadora outras conquistas podem decorrer do trabalho da equipe. Será apresentado à prefeitura um projeto para que o Pôr-do-sol no Leblon e o Pão de Saora se transformem em Patrimônio Imaterial de Cajazeiras.

 Integração Escola- Comunidade

A quantidade de assentamentos da reforma agrária em Cajazeiras (a cidade abriga uma das maiores populações de assentados do Brasil) chamou a atenção da equipe do projeto. Em suas visitas para colher entrevistas, a professora Valéria e seus alunos, além de entenderem a importância dessa população para a história do município, perceberam que muitos dos moradores eram “analfabetos digitais” e decidiram incluir no projeto, aulas com conhecimentos básicos em informática.

No mês de outubro, com o apoio da direção do Campus Cajazeiras, eles abriram as portas da escola para que jovens do Assentamento Frei Damião pudessem conhecer o mundo digital através do computador, nos laboratórios de informática do IFPB. O que se viu por parte dos visitantes foi encantamento e gratidão por um mundo novo que se lhes abriu.

“Eu já tinha usado a internet pelo celular, mas nunca tinha mexido num computador. Eu gostei muito, achei que foi uma oportunidade de aprender, de saber mais e também de conhecer o IF, eu adorei”! Afirmou radiante, Viviane Pereira da Silva, de 14 anos. Ela está no 8º ano do ensino fundamental ano e sonha em ser aprovada como aluna do IFPB Campus Cajazeiras.

A oportunidade de transcender as barreiras do ambiente acadêmico representa também um diferencial na formação dos discentes envolvidos na ação. Henrique Nogueira, voluntário do projeto, ressaltou que a experiência tem sido muito enriquecedora. “Sair do IF e ir até onde as pessoas estão; poder trazê-las aqui, ouvir o que elas têm a dizer sobre a sua vida e a história da cidade, é fantástico! É claro que fazer as entrevistas e principalmente decupar, transcrever o conteúdo, não é fácil, é trabalhoso, mas é também muito prazeroso”. Contou o aluno do 2º ano do Curso Técnico Integrado em Informática.

De acordo com a professora Valéria, durante a apresentação do livro para a comunidade, através da oficina “O cesto das memórias: lembrar para cuidar, o reencontro de um povo com a sua História!”, alguns dos personagens estarão presentes para partilhar suas memórias com a comunidade acadêmica do IFPB e poder contar mais sobre vivências que compõem a história da terra que ensinou a Paraíba a ler. A oficina acontece na próxima quarta-feira (21/12), às 14h, no auditório do Campus Cajazeiras.

 

Lidiane Maria – jornalista do IFPB/Campus Cajazeiras.

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