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IFPB impulsiona carreira feminina nas ciências

Professoras inspiram egressas de destaque e projetos formam novos talentos entre as alunas na pesquisa
por Ana Carolina Abiahy publicado: 18/03/2025 15h06 última modificação: 19/03/2025 14h13

As mulheres no Brasil ainda são minoria nos cursos do campo de ciências, tecnologia, engenharias e matemática. Para ter uma ideia, em 2023, dos ingressantes em cursos superiores destas áreas, apenas 26% eram mulheres. Mas, comparando com dez anos antes, este percentual aumentou, pelo menos, 29%. O estudo é da Nexus, com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

No Instituto Federal da Paraíba, o estímulo à presença e permanência de alunas em cursos destas áreas é um dos compromissos que vêm dando bons frutos. Estudantes egressas do IFPB são destaques que mostram o quanto o incentivo à pesquisa desde o ensino médio até a pós-graduação resulta em contribuições benéficas para a sociedade como um todo.

Egressa destaque na área de inovação 

Um destes bons exemplos é Andrécia Pereira da Costa, que fez o curso superior de Tecnologia em Automação Industrial no IFPB Cajazeiras. Em seguida, concluiu o Mestrado em Engenharia Elétrica no campus João Pessoa do IFPB. Durante esta trajetória, foi destaque na área de inovação com patentes depositadas junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). andrecia egressa IFPB prof UFPA.jpeg

Ainda na graduação, ela depositou a patente de uma máquina de amassar latas de alumínio. Na pós-graduação, depositou duas patentes relativas às áreas de telecomunicações e de eletromagnetismo aplicado. As inovações tiveram orientação dos professores Paulo Henrique da Fonseca Silva e Alfrêdo Gomes Neto. Das patentes depositadas em 2016, duas tiveram cartas concedidas em 2024.

Atualmente, Andrécia é professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), no Campus Universitário de Tucuruí, onde é a única docente mulher no curso de Engenharia Elétrica. Ela diz que, pessoalmente, não se sentiu retraída em adentrar em uma área com predominância masculina, mas que é preciso ter determinação para vencer os desafios. O apoio dos pais que moram em Cachoeira dos Índios, no sertão, e do irmão que também trilhou a carreira acadêmica foi fundamental. 

“Acredito que, embora o cenário tenha melhorado, ainda enfrentamos algumas barreiras. Muitas vezes, as mulheres precisam se provar mais em áreas historicamente dominadas por homens, o que pode gerar desafios extras, como a necessidade de reafirmar nossa autoridade e competência. Porém, também vejo que as mulheres têm se destacado cada vez mais, e é gratificante fazer parte desse processo de mudança e inclusão”, afirmou Andrécia.

andrecia egressa IFPB.jpegA sertaneja de Cajazeiras tenta inspirar outras garotas no norte do país a prosseguirem nesta área de ciências, inovação e pesquisa. “Procuro ser uma referência positiva, mostrando que é possível superar os desafios e conquistar espaços na academia, independente do gênero. Elas frequentemente compartilham suas dificuldades comigo, como a sensação de não serem tão valorizadas ou de enfrentarem preconceito, mas também percebo que muitas se sentem encorajadas ao verem uma mulher em um papel de liderança no ambiente acadêmico. Tento sempre oferecer o suporte necessário, tanto técnico quanto emocional, para ajudá-las a seguir em frente e acreditar no seu potencial”, destacou Andrécia.

Casada e com filho ainda bebê, ela conta como é conciliar a família e a pesquisa/ensino. “É um desafio, mas a chave está no equilíbrio e na organização. A divisão de tarefas precisa ser bem planejada e a comunicação dentro da família é fundamental para garantir que todos compreendam as demandas de cada um. Procuro me organizar de forma que possa dedicar tempo para cada área, mas sei que não posso fazer tudo sozinha. Contar com o apoio da família e, quando possível, delegar algumas responsabilidades, ajuda muito a manter a produtividade sem perder o bem-estar. A flexibilidade é importante, pois alguns dias exigem mais atenção à pesquisa, enquanto outros são voltados para a família”.

O trabalho na área de inovação só prossegue, hoje são 14 novas patentes depositadas no INPI. “Tenho novas patentes depositadas. Em 2024, foram publicadas duas cartas patentes concedidas, as quais foram depositadas em 2016 durante o meu mestrado no IFPB Campus João Pessoa. Tenho focado na área de telecomunicações, especialmente em antenas de microfita”, conta.

Aluna do campus Esperança atua em projeto de divulgação da ciência 

Se para Andrécia, a afinidade com cálculos matemáticos já existia desde o ensino médio, para a aluna do Campus Esperança do IFPB, Ana Clara Gonçalves da Silva Dias, o campo das ciências e da pesquisa era novidade até a instituição entrar em sua vida. ANA CLARA IFPB esperança.jpeg

“Eu fiz o Ensino Fundamental em uma escola municipal aqui de Esperança. A área de ciência e tecnologia era um campo desconhecido para mim até que ingressei no ensino médio no IFPB. Foi nesse momento que me apaixonei pela área completamente, a ponto de decidir seguir um curso superior na mesma instituição”, conta Ana Clara. 

Hoje, ela faz o quinto período da graduação em Análise e Desenvolvimento de Sistemas. A experiência de Ana Clara é bem diferente da história de vida familiar.  “Meus pais são agricultores e trabalham com isso. Minha mãe trabalha na agricultura desde muito nova, infelizmente foi tirada dela a possibilidade de estudar. Ela sempre enfatiza o quanto é gratificante me ver tendo esse privilégio e faz de tudo para tornar essa jornada mais leve para mim”, ressalta a jovem.

Ana Clara é uma das alunas bolsistas do projeto de pesquisa “Rede Paraibana de Meninas e Mulheres Cientistas”, coordenado pela professora Deyse Morgana das Neves Correia (diretora de Pesquisa do IFPB), que foi contemplado em um edital nacional do CNPq com bolsas e custeio. O projeto é desenvolvido em oito municípios paraibanos, por meio de seis campi do IFPB, divulgando as Ciências Exatas, Engenharias e Computação em 10 escolas estaduais e municipais distribuídas por todo o estado. Um dos públicos-alvo que o projeto quer despertar para a ciência são justamente meninas que cursam ensino fundamental em escolas do interior do Estado. Bolsistas como Ana Clara vão servir de inspiração e base para estas alunas, despertando o interesse por meio de oficinas, desafios de robótica e programação, entre outros.

Ana Clara hoje sonha com mestrado acadêmico e com a futura atuação de desenvolvedora de software no mercado de trabalho. “Durante minha trajetória no curso, me encantei com o meio acadêmico, especialmente pela troca de conhecimento e pela possibilidade de contribuir para a evolução da tecnologia. Além disso, tenho grande interesse em aprofundar meus estudos e explorar novas oportunidades dentro da área de computação”, comentou. 

Professoras inspiram novos talentos nas ciências 

deyse ifpb dir pesquisa.jpegImpulsionar novas pesquisadoras, despertar o interesse feminino nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação e estimular o crescimento acadêmico das mulheres estão entre os horizontes deste projeto orientado por Deyse Morgana, que é pedagoga. A proposta começou com oito docentes na submissão e hoje são 30 pesquisadores e 26 bolsistas. Entre elas, estão alunas das graduações de Engenharia Civil; Engenharia de Computação; Engenharia Elétrica; Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e dos Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio em Edificações; Informática; Eletrônica e Eletrotécnica. 

Desde o início da elaboração da proposta, uma das colaboradoras foi a Pró-Reitora de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação do IFPB, Silvana Luciene do Nascimento Cunha Costa, uma das pioneiras da instituição nestas áreas. Silvana se formou em Engenharia Elétrica em 1990 e ingressou como professora ainda na antiga Escola Técnica em 1994, e viu uma instituição bem mais masculina. “Participei do projeto do primeiro bacharelado que foi elétrica e do primeiro mestrado do IFPB. O primeiro mestre eu fui a orientadora. Mas a maioria sempre foi de homens. Embora eu tenha orientado ou coorientado muitas meninas”, relembra.

Como gestora da PRPIPG há alguns anos, Silvana vem acompanhando as transformações positivas que colocam as mulheres como protagonistas das áreas antes tidas como quase exclusivamente masculinas. A sua trajetória também inspira outras alunas a trilharem caminhos de sucesso, como é o caso de Raíssa Tavares Vieira Queiroga, que foi da primeira turma de Engenharia Elétrica do campus João Pessoa, e hoje é docente. silvana ifpb prpipg.jpeg

“A professora Silvana me ensinou a caminhar na pesquisa científica e sempre foi uma referência profissional para mim. Lembro sempre do seu apoio e incentivo, que foram fundamentais para minha aprovação nas universidades que eu almejava na pós-graduação. Hoje, como professora, busco me espelhar nela para inspirar minhas alunas da mesma forma que ela me inspirou”, destacou Raíssa, que fez mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo e atualmente é professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

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