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Um gesto de palavra
A Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015) busca assegurar e promover os direitos fundamentais de pessoas com deficiência no exercício de sua cidadania, tais como o direito à educação.
Pensar a aula de Língua Portuguesa sob esse prisma implica compreender a sala de aula como um espaço de sujeitos múltiplos, que podem fazer uso de diversas estratégias de linguagem na construção de saberes.
Nesse sentido, a inclusão de alunos surdos no IFPB tem sido uma realidade que, apesar de desafiadora, tem incentivado a pesquisa da prática pedagógica e a compreensão do ensino de línguas como construção e compartilhamento de diversos saberes linguísticos.
A linguagem é a capacidade de comunicar. Por meio dela conseguimos interagir com o mundo ao nosso redor, buscamos com e por meio dela marcarmos a nossa existência, nosso pertencimento. Desse modo, a linguagem, seja ela verbal ou não, é uma das nossas maiores aliadas na socialização com os sujeitos e com as habilidades e competências que buscamos desenvolver, inclusive no ambiente escolar. Atrelada à linguagem, a língua funciona como um sistema de signos organizados de forma a construir significados socialmente compartilhados.
A Língua Brasileira de Sinais está presente no cotidiano do campus Itabaiana. No caso de Língua Portuguesa, por meio da parceria entre a professora Francielly Pessoa e a Intérprete de Libras Arlinda Pereira, as aulas dessa disciplina têm buscado compreender a relação inclusão e linguagem da pessoa surda a fim de garantir condições de aprendizagem significativas no denominado letramento linguístico.
O estudante José Wagnner Hugo da Silva, 15 anos, aluno do 1° ano do Curso Técnico Integrado em Automação Industrial, assiste às aulas em formato bilíngue. As aulas são pautadas na adaptação de material didático, construção de processos de tradução, associação entre conceitos e formas da língua portuguesa e a língua de sinais e, sobretudo, no incentivo da aprendizagem do aluno tanto sobre a Libras quanto sobre o português escrito.
Nesse trabalho entre aluno-professora-intérprete, Hugo apresentou no dia 16 de agosto seu primeiro seminário bilíngue na disciplina de Língua Portuguesa, e o tema não podia ser mais coerente com o momento: variação linguística. Foi um momento de muita aprendizagem, engajamento da turma e uma demonstração de que o aluno surdo, fazendo uso de sua língua materna, LIBRAS, pode interagir com os diversos conteúdos curriculares da escola e da Língua Portuguesa escrita:
"Eu fiquei muito feliz em apresentar o seminário. Antes eu achava que não conseguiria, mas Arlinda (Intérprete) me convenceu que eu conseguiria e que eu era capaz sim. Ela me ajudou muito, e ainda tem me ajudado a desenvolver. Esse seminário foi uma experiência maravilhosa, eu gostei muito, foi muito emocionante para mim. Até hoje me sinto feliz! A aula de português hoje tem sido uma experiência muito boa para mim, a professora Francielly me ajuda bastante, ela compreende minha dificuldade e me ajuda muito a compreender. Gosto demais dela e da forma que me ajuda a compreender" (Hugo).
Fazer uso da LIBRAS e da Língua Portuguesa é um desafio para a escola e também para o estudante. Não basta se dizer inclusiva, a escola precisa construir relações de aprendizagem que considerem as diferenças como oportunidades de mudança de perspectiva e reafirmação da escola como um ambiente de transformação social.