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Projeto Alvorada realiza emocionante Aula Inaugural
Um recomeço, um verdadeiro alvorecer depois da escuridão. Assim pode ser encarado o Projeto Alvorada, voltado para a inclusão social e produtiva de pessoas egressas do sistema prisional e seus familiares. A iniciativa é financiada pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).
No Instituto Federal da Paraíba, o projeto iniciou em 2022 com 20 alunos. Neste ano, são duas turmas divididas nos campi João Pessoa e Campina Grande, cada uma com 30 estudantes. O curso de Formação Inicial e Continuada (FIC) é de Eletricista Residencial e Predial e terá oito meses de duração. Durante este período, a turma recebe auxílio estudantil e faz estágio.
Muitos destes estudantes têm histórias de superação a nos ensinar. É o caso de Janecleide Alves de Medeiros, que parou de estudar aos 15 anos de idade e passou outros 15 como dependente química. Ela trabalha na Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) há três anos, fez o Encceja e pretende fazer o Enem. A ideia é seguir os passos das filhas, duas universitárias e uma que se formou no técnico do IFPB.
“Para sustentar o vício do crack eu cometia furtos e vivia entrando e saindo da prisão porque como eram pequenos delitos não passava muito tempo presa. Um dia decidi que não queria mais esta vida. Até cheguei a pedir pra me darem uma sentença maior. Passei cinco anos no presídio e lá aprendi a fazer serviço de manutenção, encanação, até na parte elétrica eu tenho uma noção prática, mas esse curso vai ensinar ainda mais”, contou Janecleide.
A mesa de honra teve as presenças da juíza da Vara de Execuções Penais da capital, Andréa Arcoverde; do secretário estadual de Administração Penitenciária, João Alves; da Gerente Executiva do Escritório Social da Paraíba, Anna Paula dos Santos; da pró-reitora de Extensão e Cultura, Josi Batista (representando a reitora Mary Roberta); do diretor geral do campus João Pessoa, Ricardo Ferreira; da defensora pública Waldelita Cunha Farias, e do coordenador do Alvorada no IFPB, Franklin Garcia Figueiredo.
A Pró-reitora Josi fez questão de agradecer outros parceiros como o Ministério Público Federal, a Superintendência Regional do Trabalho e lembrou que a proposta só deu certo devido à união de esforços de diversos entes públicos. Josi ressaltou que o IFPB tem um compromisso social que vai muito além da sala de aula, fazendo política pública que dignifica a vida das pessoas.
O coordenador Franklin explicou que o curso tem cinco meses de aulas práticas e teóricas e três meses para o estágio e abordou a dificuldade que o IFPB enfrentou para conseguir espaço nas empresas devido à discriminação. Mesmo assim, os casos exitosos valeram o esforço e Franklin frisou principalmente o ganho emocional que muitos estudantes tiveram, melhorando no relacionamento interpessoal, o que é fundamental para qualquer trabalho que venham desenvolver. “Temos a missão de oferecer um ensino de excelência, mas nosso grande diferencial é a formação humana”. Franklin frisou ainda que a presença de familiares no curso é um ganho que pode fortalecer ainda mais o programa.
A juíza Andréa declarou que o Alvorada é o melhor programa desta natureza no país e que o IFPB faz o diferencial com seu acompanhamento e acolhimento. “Agradeço ao IFPB por ter este olhar especial, por ter colocado entre as suas metas e seu planejamento um curso para egressos do sistema penitenciário”.
Para Ana Paula, que faz parte da Secretaria de Desenvolvimento Humano, o curso é uma oportunidade de romper com situações degradantes como a vida nas prisões ou a discriminação que acompanha o período posterior. “Eu vim de um lugar periférico e sei que braços estendidos podem mudar esta história”.
O diretor Ricardinho frisou que a proposta do IFPB ficou em primeiro lugar na seleção nacional de instituições de ensino que participam do Alvorada, validando a qualidade do curso a ser oferecido. “A equipe está preparando este curso com muito carinho, já temos testemunho das vidas que foram transformadas pelo programa”, destacou.
A defensora pública Waldelita comentou que acompanha a aflição de muitos apenados que têm receio de sair das prisões por não terem alternativas para sustentar a família e que programas como o Alvorada são uma chance de transformar essa realidade. “Este é um programa rico que faz a diferença como uma porta de saída”.
Para o secretário João Alves, o Alvorada é como um alvará de independência financeira. “Eles estão dizendo publicamente que querem seguir soltos trabalhando e no momento de crescimento que a Paraíba está vivendo vamos precisar muito de eletricistas”, apontou.
Entre os novos alunos que esperam usufruir deste curso estão Everton Rodrigues e Luís Pereira que trabalham no Detran e passaram pela seleção do Escritório Social. “Eu já fazia uns serviços de eletricista, mas agora vou ter um certificado reconhecido, uma oportunidade de aprender mais, agradeço porque aí fora é um curso caro, não ia ter condição de pagar”, comentou Luís.
O momento final da Aula Inaugural contou com o depoimento de dois ex-estudantes, Carol e Romário Camilo. Romário hoje trabalha na área e diz que está conseguindo sustentar a família com o que aprendeu no curso e já se aprofundou na área de Eletricista de Sistemas de Energia Renovável em outro curso ofertado pelo IFPB por meio do EnergIF. Ele comentou principalmente sobre o acolhimento da instituição que “não fez distinção de nada, nenhuma discriminação”.
A equipe pedagógica que vai trabalhar no programa e alguns docentes também se fizeram presentes e deram as boas vindas à turma. A diretora de Cidadania e Alternativas Penais da Secretaria Nacional, Mayesse Parizi, enviou um vídeo saudando os participantes.