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Ensaios sobre a (In)sensibilidade: livro lançado no Fórum de Debates em Educação suscita um olhar sobre a existência
“A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece”.
O trecho do pesquisador Jorge Larrosa Bondía, da Universidade de Barcelona, veste a contracapa do novo livro do professor de Filosofia do IFPB, Emmanoel Rufino, e sintetiza seu principal viés de discussão: a plena vivência do cotidiano. “Muitas pessoas apenas sobrevivem, existem, mas não imergem profundamente naquilo que tem diante de si todos os dias. Nós somos treinados e moldados para fins reprodutivos e técnicos - quase inaptos a, de fato, experienciar as coisas”, destacou o autor no Fórum de Debates em Educação da última segunda-feira (2), no auditório I.
Ensaios sobre a (In)sensibilidade é a terceira obra lançada de Emmanoel, mas começou a ser escrita antes da publicação da primeira, levando seis anos pra ser concluída. Ele esclareceu: “Esse tempo reflete um pouco da própria ideia que o livro traz enquanto provocação. Mais do que palavras, suscita reflexões existenciais profundas. É quase um elogio à crise”.
Dividido em duas partes: experiências que o autor viveu, e experiências que viu, “Ensaios” traz relatos que reverberam para fora das páginas. Antes da instalação da mesa redonda com o autor e quatro leitores do livro, por exemplo, um destes leitores, o professor de Instrumento Musical Adriano Caçula, fez uma apresentação que, para ele, se conecta sinestesicamente com o conteúdo da obra. Uma das melodias tocadas com uma guitarra foi Sonata ao Luar, de Beethoven.
Já no debate, Adriano disse que a leitura da obra remeteu ao fato de, hoje, vivermos em bolhas sociais, muitas vezes intolerantes e incapazes de conviver com as diferenças: “Quando retiramos alguém do nosso convívio social, enxergamos aquela pessoa como algo abaixo de humanos. Não estamos mais aptos a ouvi-las. Isso se vê muito nos embates entre torcidas organizadas e aqueles que são frutos de polarizações políticas.”
Por sua vez, Aline Silvestre, egressa do IFPB e estudante de Engenharia Mecânica da UFPB, destacou que a sociedade não está sensível devido à quantidade de informações disponíveis e bombardeadas a todo o tempo nas pessoas: “Quando acordamos no dia seguinte, nada resta do dia anterior. Não absorvemos coisa alguma de nossas experiências”.
Ágatha Pereira, aluna de Contabilidade no Instituto, contou que o livro tem essa capacidade de conexão com quem lê, e fez um paralelo da linguagem presente nele com uma das obras de Clarice Lispector: “Em ‘A Hora da Estrela’, Clarice ressalta que conhece palavras específicas, adjetivos carnudos, mas que se utilizasse, perderia a essência das personagens. Acontece coisa semelhante aqui. O livro tem muitas reticências... Faz a gente pensar.”
Andréa Alves, discente do curso técnico de Controle Ambiental do IFPB, redirecionou a experiência para momentos que deixamos escapar com muita facilidade, por medo e insegurança: “Quando vamos ‘ajudar’ um morador de rua, entregamos as moedas já pensando em sair dali, para nos livrarmos daquela situação. Mas, muitas vezes, desconhecemos que aquela pessoa está precisando muito mais de atenção do que de dinheiro”.
A contribuição com ideias também veio da plateia. O professor de Filosofia Allan Patrick lançou um contraponto ao debate: “Às vezes se torna muito difícil se importar com o outro, tendo em vista um contexto de desigualdade social tão grande quanto o nosso, em que temos nossas próprias angústias diárias para lidar. Por isso, amar também é tentar construir uma sociedade menos desigual”.
Verbalizando um pequeno ensaio sobre “Ensaios”, Emmanoel retomou o conteúdo do livro: “A noção de experiência, que tirei do sociólogo Walter Benjamin, move o leitor à profundidade do que é existir. Para provar o sentido humano e a estética da existência, já que estética é isso: sensibilidade”.
Os interessados em adquirirem a obra devem procurar diretamente o professor Emmanoel Rufino, que é vinculado à Coordenação de Ciências Humanas e suas Tecnologias - CCHT. “Fiz essa edição de forma independente, então quem tiver interesse em adquirir um volume pode me procurar. Certamente, depois do esgotamento da primeira tiragem, eu penso numa editora para publicar uma nova. Por enquanto é comigo”, orientou.
Comunicação Social do campus João Pessoa