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Painel local da LAB Brazil Conference discutiu aprendizagem e meritocracia

Encontro ocorreu com docentes do IFPB campus João Pessoa no auditório José Marques
por publicado: 10/04/2018 16h41 última modificação: 10/04/2018 19h01

Apresentado das 15h45 às 17h45 da última sexta-feira (6), o painel “Educação: da meritocracia à desigualdade” refletiu sobre o processo de aprendizagem na Educação atual, sugerindo que um dos fatores para a sua melhoria está na compreensão, pelos docentes, da conjuntura social dos alunos, permitindo o aperfeiçoamento de suas próprias metodologias de ensino. Participaram da discussão Rafaelle Aguiar (coordenadora do Curso Técnico de Eletrônica), Daniela Silveira (docente de História), Silvana Cunha (coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica), e Alexandre D'Andrea (docente do IFPB que participou do  Programa Professores para o Futuro). Realizado no auditório José Marques, o momento fez parte da programação do LAB Brazil Conference, evento organizado pelos alunos do Ramo IEEE (Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos) para promover o debate sobre os mais variados temas relevantes para o país.

Antes do início da discussão, representantes do Ramo exibiram o vídeo que inspirou a ideia de promover o painel: uma entrevista com Tabata Amaral, 24 anos, criadora do ‎Mapa Educação e do movimento Acredite. Oriunda da periferia e do ensino público, ela conquistou bolsas de estudo em instituições particulares, em um processo que culminou na sua aprovação na Universidade Harvard (EUA), onde arrematou os diplomas de graduação em ciências políticas e astrofísica. No vídeo, ela afirma que há duas maneiras de contar a sua história: uma a partir da jornada do herói, na qual o foco é no esforço individual, e a outra, a partir de um empreendimento de forças coletivas e situações favoráveis, constituindo uma visão realista da situação, em que toda a abdicação de tempo dos familiares para lhe ajudar, a boa alimentação, a localização geográfica e as bolsas de estudo, além do próprio empenho, foram determinantes para que ela chegasse onde chegou. A entrevista pode ser conferida aqui.

Dada a largada do painel, a professora Rafaelle Aguiar iniciou o momento com uma reflexão: Como conquistar os alunos? “Alguns docentes de Humanas organizam as cadeiras da sala de forma circular, colocando os estudantes em um nível de igualdade em que todos podem se ver”, comentou. Ao pensar nisso, ela passou a raciocinar maneiras semelhantes de transformar o ensino no curso Técnicnico Integrado em Eletrônica – com atitudes simples, mas significativas, que gerassem maior envolvimento nas aulas. Foi quando buscou pesquisadores que aplicassem metodologias diferentes na docência da área de Exatas, encontrando respaldo nos pensamentos de Paulo Bleinstein, Eric Mazur, Barbara Oakley e Richard Felder.

Este último, também engenheiro, alerta para a existência de distintos estilos de aprendizagem. Alguns aprendizes, por exemplo, preferem informações visuais, como figuras, diagramas e esquemas, ao passo que outros assimilam melhor os assuntos com informações verbais, orais ou escritas. Igualmente, parte dessas pessoas pode aprender ativa e interativamente, enquanto as demais podem possuir uma abordagem mais introspectiva e individual. O autor acredita que o papel do professor é fazer com que o aluno desenvolva mais estilos de aprendizagem. “Apesar de aplicar todas as técnicas formais que aprendi enquanto docente, nem todos os alunos irão aprender da mesma forma. Mas eles têm uma capacidade incrível. O professor tem que sair mais da parte técnica e buscar auxílio na assistência social. Saber o que está impedindo o aluno de aprender”, finaliza Rafaelle.

Por sua vez, Daniela Silveira, docente de história, problematizou a recente Reforma do Ensino Médio, empreendida pelo Governo Federal, como uma medida que vai de encontro à formação propedêutica, isto é, formação preparatória, cujo objetivo principal é levar o aluno a um nível mais avançado de aprendizagem. “Essa Reforma vai de encontro à Constituição, que prega uma formação que prepare para o mundo do trabalho - não ‘mercado’ de trabalho. Uma formação cidadã. O intuito da Reforma é gerar mão-de-obra barata, que não questione as suas condições de trabalho posteriormente”. Ela revelou recear pelo futuro dos alunos do ensino público, principalmente do IFPB, incluindo os que entram através das cotas na instituição. Para Daniela, as cotas vêm para preencher as lacunas da meritocracia.

A professora Silvana Cunha, da coordenação de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, também manifestou seu apoio às cotas, atestando que é um sistema de compensação da desigualdade social que assola o Brasil. Ela defende que os alunos possuem condições adversas de estudo – alguns, por exemplo, sequer têm acesso financeiro a transporte público. Ela contou sobre o dia que conheceu um estudante que chegava todos os dias atrasado nas aulas, encharcado de suor, e era repreendido pelos professores. Até a hora que ela resolveu perguntar, ninguém procurava saber as razões pelas quais ele chegava assim. A docente teria ficado bastante surpresa ao saber que o discente morava em Bayeux, município vizinho, e andava diariamente da sua casa até o Instituto. “Quem terá mais facilidade de estudar (e ser aprovado em exames): este aluno ou aquele que anda de carro?”. Silvana finalizou mobilizando a discussão para o âmbito pessoal, dizendo que sonhos só são realizados com apoio. “Eu só consegui chegar onde estou porque a mãe de uma amiga ajudava a gente na hora do almoço. Só consegui um doutorado dez anos depois do mestrado porque, por ter engravidado uma vez atrás da outra, o professor se colocou no meu lugar e passou a marcar as aulas em datas que eu poderia ir.”

Por derradeiro, o professor da areá de Meio Ambiente Alexandre D'Andrea disse que se sentia responsável em falar de cidadania com os alunos. Focado em saber como o estudante pensa, ele viajou à Finlândia em 2016 por meio do Programa Professores para o Futuro, cujo objetivo não é apenas qualificar professores e alunos da rede federal, mas também evoluir o sistema de ensino por meio da aplicação de experiências bem sucedidas em países que se destacam no segmento educacional. O docente discorreu sobre a experiência de dois anos atrás: "Na Finlândia, os alunos não são diferentes de vocês, nem mais inteligentes. Todos têm incertezas, dúvidas... O que acontece lá é que desde o 'prezinho' (jardim da infância), os estudantes são incentivados pelos professores ao trabalho em grupo, à experimentação e até ao erro. Assim, eles acabam aprendendo com as falhas e desenvolvem uma proatividade para resolver problemas. O aprendizado toma tempo. Ele não é de um dia para o outro. É um processo que ocorre na mente de cada um. O papel do professor não é dizer o que é certo e o que é errado, mas dar condições para que eles tomem suas decisões e busquem a melhoria".

O evento

O LAB Brazil Conference é realizado pelo Ramo IEEE do IFPB para promover discussões e transmitir painéis da “Brazil Conference at Harvard & MIT”, que acontece todo mês de abril em Cambridge, nos Estados Unidos.  Nesta edição, além do painel local, a programação contou com a exibição da mesa redonda “O Brasil do amanhã - como construir um país inclusivo, sustentável e desenvolvido”, com Fernando Haddad e Ciro Gomes; e “Lições experimentais para empreender no Brasil”, com Cristina Junqueira (Vice-Presidente do Nubank), Gabriel Benarrós (co-fundador da Ingresse.com), Marcos Toledo (co-fundador do Canary) e Rony Meisler (co-fundador do Grupo Reserva). Para esses painéis transmitidos, os participantes presentes no auditório puderam utilizar um canal exclusivo disponibilizado para fazer perguntas aos palestrantes que estão em Cambridge.

Segundo um dos organizadores do LAB Brazil no IFPB, Rychard Guedes, o intuito da iniciativa, com os três momentos da programação foi tratar de política e democracia; abordar o empreendedorismo, devido à emergência de startups focadas no nicho de clientes para surprir as demandas de mercado, aprendendo com quem viveu a situação na prática; e, finalmente, reunir painéis com diversas opiniões para ajudar a aperfeiçoar o ambiente acadêmico. "Ouvi uma vez e sempre repito que quando duas pessoas conversam e possuem a mesma ideia sobre determinado assunto, sairão da discussão com apenas uma ideia, mas quando duas pessoas com ideias diferentes conversam, ao final elas terão três ideias, e isso é necessário para a melhoria em qualquer área." 

Comunicação Social do campus João Pessoa

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