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De onde vem a solidariedade humana?

Confira as abordagens filosófica e psicológica sobre o assunto
por publicado: 22/05/2020 15h32 última modificação: 22/05/2020 15h36

Histórias de solidariedade que surgem em momentos difíceis como o atual parecem lampejos de esperança em meio ao turbilhão de informações duras, frias e, muitas vezes, tristes. Mas o que leva as pessoas a terem atitudes solidárias? A resposta não é fácil e nem precisa. Para entender um pouco sobre o assunto, dois pontos de vistas são necessários: o filosófico e o psicológico.

O professor de Filosofia do IFPB, Emmanoel de Almeida, esclarece que na filosofia ocidental há duas perspectivas: uma de que a solidariedade é inata e a outra de que é um princípio criado pela própria sociedade. Essa última perspectiva também é compartilhada pela Psicologia que credita à influência social, as atitudes de solidariedade, como explica a psicóloga Dayse Ayres. “No que se refere a solidariedade, há na natureza humana uma necessidade de ser bem visto pelos outros, de pertencimento a grupo ou sociedade, de conexão e busca por aceitação externa”.

De forma geral, entendemos que o primeiro passo para a solidariedade é a empatia, que segundo Dayse, é o ato de “tentar ‘experimentar’ de forma objetiva e racional o que o outro sente. Em outras palavras, tentar “se colocar” no lugar do outro de maneira a se sensibilizar com sua dor (se este for o caso)”. A psicóloga reforça que a empatia sempre vai estar relacionada à visão de mundo, experiências de vida e traços de personalidade de cada pessoa.

Esse movimento interno de se colocar no lugar do outro provoca a solidariedade, que se concretiza na ação de tentar ajudar, amenizar ou diminuir a dor ou necessidade de alguém. A atitude solidária é a “doação de si e um desprendimento, seja de ordem afetiva/emocional ou material. E uma forma de exercitar a empatia e tentar manter o olhar de afeto sobre as necessidades de outras pessoas”, reforça Dayse.

Já do ponto de vista filosófico, Emmanoel destaca que a solidariedade transpõe o instinto de sobrevivência. “A história acumula muitos exemplos de ações humanas que desafiam e transcendem a lógica do instinto animal, que também possuímos. Diferente da lógica comum à natureza selvagem dos animais, há seres humanos que conseguem privar-se de um benefício vital para garantir a vida do outro que ama”.

Para o docente, o amor seria uma das formas da experiência humana que desafia a lógica determinista de uma vida dedicada apenas à sobrevivência. É no olhar que vê no outro alguém com quem se identificar, que é possível se justificar a atitude de pessoas como Maximiliano Maria Kolbe, Viktor Frankl, Oscar Schindler e outros, que arriscaram a própria vida para resgatar desconhecidos em campos de concentração nazistas, por exemplo.

“As filosofias de Platão e Aristóteles nos lembram que somos sujeitos políticos. Ser político é ser com os outros na cidade (pólis) e compartilhar com eles os esforços necessários para que todos possam ser felizes conjuntamente”, comenta Emmanoel. De acordo como docente, a solidariedade pode ser percebida como o exercício que busca melhorar a vida em sociedade e, assim, reforça a ideia de que ninguém é autossuficiente e todos precisam uns dos outros.

A Psicologia entende que a maneira como cada ser humano percebe o mundo e as pessoas ao seu redor reflete diretamente em suas atitudes, que são o meio pelo qual as pessoas se ajustam ao meio social. “Pessoas que só vivem sua própria realidade, não são conscientes do que acontece ao seu redor, são indiferentes, egoístas, com pouca humildade e sem poder de compreensão do que o outro possa estar sentindo. Assim, dificilmente pessoas com esse perfil desenvolvem atitudes empáticas ou solidárias”, explica Dayse.

Segundo a psicóloga, o comportamento solidário pode ser gerado por diversas razões desde a necessidade de fazer algo que seja “politicamente correto” até ações que passam pelo processo de empatia e envolvem “compaixão e compreensão dos sentimentos do outro e um propósito genuíno em contribuir, sem esperar algo em troca”.

“Algumas décadas atrás, Michel Foucault falou do ‘cuidado de si’ como cuidado do outro, ideia muito inspiradora para tempos como o nosso, em que diante do inimigo oculto que é o Covid-19, somos chamados ao autocuidado sanitário, seja com o simples uso de máscaras, seja com a nossa reclusão domiciliar. Quando assim agimos e cuidamos de nossa saúde, também estamos cuidando da saúde alheia. Eis um ato profundamente solidário”, reflete Emmanoel.

Lembrando Aristóteles, o docente esclarece que a solidariedade não é uma virtude moral inata, há a ideia de que ela pode e deve ser aprendida. “Do mesmo modo como nos tornamos arquitetos cada vez melhores ao exercitarmos mais e mais a arquitetura, e nos tornamos bons professores, a cada nova experiência de ensino, só podemos nos tornar mais solidários quando nos dispusermos a exercitar essa virtude aprendida, alcançando o outro com um gesto concreto”.

Já na perspectiva que acredita na solidariedade como parte da essência humana, as ações solidárias são a concretização daquilo que constitui a própria humanidade. “Em ambos os casos, revela-se uma questão ética, cuja base está no pensamento de Immanuel Kant e expressa uma famosa máxima atribuída a Jesus: fazer para os outros o mesmo que gostaria de ver os outros fazerem para si. Esse pode ser um bom farol reflexivo para nos guiar no mar revolto desta pandemia que atravessamos”, conclui Emmanoel.

Dicas práticas para quem quer ser solidário durante a pandemia

Vários exemplos de solidariedade têm surgido nesse período. A doação de cestas básicas é uma delas e você pode ajudar se envolvendo na campanha IFPB Solidário. Se você tem recursos financeiros, você pode ajudar doando alimentos ou até mesmo contribuindo com a saúde e pesquisa. Veja como nesse link.

Você também pode doar seu tempo fazendo compras para vizinhos e familiares do grupo de risco. Ou pode ajudar amigos a estudarem assuntos que você domina por meio de chamadas ou áudios nos grupos de whatsapp. Outra atitude simples, mas que pode fazer a diferença é adotar “virtualmente” um idoso, principalmente aquele que mora sozinho. Você pode conversar com ele duas ou três vezes por semana pelo telefone ou enviando mensagens. O mesmo vale para aquele seu amigo que você sabe que é mais ansioso e pode estar sofrendo mais nesse período de isolamento social. A dica seria ligar para saber como ele está e manter o contato para que ele saiba que pode contar com você.

 

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