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08 de março: quatro histórias de mulheres e seus desafios em tempos de pandemia

Conversamos com Ana Beatriz, Lilian Cardoso, Betânia Dantas e Denize Araújo
por publicado: 08/03/2021 10h44 última modificação: 09/03/2021 15h01

A pandemia da Covid-19 vem causando impactos em vários âmbitos da vida dos brasileiros. No entanto, pesquisas apontam que as mulheres são mais afetadas nas esferas social, econômica e emocional. Durante a pandemia, as mulheres tiveram que ser mais resilientes para conseguir equilibrar as pressões e atividades que se acumularam de forma abrupta e revelaram fragilidades nas relações sociais, familiares e internas.

Com a mudança no cotidiano, mulheres de várias gerações tiveram que se reinventar para enfrentar circunstâncias totalmente desconhecidas. Confira quatro dessas histórias:

Ana Beatriz - Dia da Mulher.jpgAna Beatriz de Souza- Estudante: “Devemos ensinar as meninas que sejam corajosas, não perfeitas e se elas não derem conta de tudo, está tudo bem”

A estudante de Engenharia Elétrica, Ana Beatriz, tinha que uma rotina bem organizada, desde as 5h40 da manhã até o fim da tarde. Com a chegada da pandemia, isolamento social e suspensão das aulas, veio a sensação de incerteza e perigo. Apesar disso, sua família resolveu enfrentar o desconhecido de forma positiva. “Passamos a ter uma boa alimentação, criamos novos hábitos, como dança e outros exercícios aeróbicos em casa, jardinagem e cultivo de horta, jogos e brincadeiras. Começamos a agradecer por coisas que antes passavam despercebidas”, revelou.

Ana Beatriz conta que buscou uma atividade que lhe desse prazer e ajudasse a enfrentar os pensamentos negativos. Ela encontrou essa válvula de escape na culinária. “No meu caso, cozinhar foi essencial para poder passar por momentos difíceis e me alegrar durante a pandemia. Além de cultivar meus próprios ingredientes, isso me trouxe muita satisfação”, ressalta.

Nesse período, algo positivo foi a mudança na relação que ela tinha com a pressão social que as mulheres enfrentam a respeito da estética. Ela passou a mudar a forma como percebia sua aparência e começou a aceitar-se melhor sem maquiagem e com cabelos naturais. A pandemia também a fez refletir sobre o mito de que as mulheres têm que ser perfeitas e eficientes. “Devemos ensinar as meninas que sejam corajosas, não perfeitas e se elas não derem conta de tudo, está tudo bem”, finalizou. 

Lilian - Dia da Mulher.jpgLilian Cardoso - docente e chefe do DIPPED: “Nós, mulheres, temos uma natureza de resiliência forte”

Para Lilian Cardoso, docente e chefe do Departamento de Inovação, Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão, Cultura e Desafios Acadêmicos – DIPPED, as mulheres já desempenhavam várias funções como profissional, filha, mãe, esposa, entre outras, e com a pandemia isso se intensificou. Assim como várias outras mulheres, ela perdeu a rede de apoio que tinha e que a permitia conciliar os compromissos e atividades que exercia. “Perdemos o apoio presencial dos avós, família e da escola. Foi uma mudança de rotina brusca que se tornou mais desafiador. Também chegaram funções extras como o acompanhamento dos meus filhos nas atividades virtuais da escola e a própria rotina de higienização da casa tendo em vista o risco de contaminação”, reforça.

Para enfrentar esse cenário adverso, Lilian tentou manter o equilíbrio, fortalecer-se espiritualmente e administrar melhor os compromissos pessoais e profissionais. “Nós, mulheres, temos uma natureza de resiliência forte. Essa capacidade nos auxilia a ter equilíbrio emocional e a nos reinventar de certa forma, para os novos desafios que se apresentam em nossa vida”, analisa. Lilian conta que a maternidade foi uma experiência mudou sua compreensão de mundo e a ajudou a enfrentar as incertezas com mais de fé, esperança, empatia e amor.

Como líder de uma equipe, teve que enfrentar um contexto bem diferente do habitual, que foi gerenciar os trabalhos de forma remota. Sem o contato pessoal diário, a equipe passou a dividir mais as frentes de trabalho e as responsabilidades de cada um. Na busca por aliviar o distanciamento físico, durante os encontros virtuais, o grupo também passou a refletir e conversar sobre outros assuntos. “Também celebramos as pequenas conquistas pessoais de cada um, como aniversários, nascimento dos filhos, formatura, a recuperação de alguém que esteve ou teve algum parente doente”. A gestora revela que essa foi a maneira que encontraram para se apoiarem mutuamente.

Sobre a crença de que as mulheres conseguem dar conta de tudo, Lilian acredita que esse pensamento equivocado surgiu por causa das diversas funções femininas impostas pela sociedade. “Nós crescemos com essa falsa ideia e isso nos pressiona e aprisiona”. 

Denize - Dia da Mulher.jpgDenize Araújo – docente: “Essa ideia de que a mulher tem de dar conta tudo parece ter se acentuado ainda mais na pandemia”

A docente Denize Araújo também acredita que a ideia de que a mulher tem de dar conta tudo parece ter se acentuado ainda mais, principalmente quando o ensino remoto foi imposto de modo emergencial. “Como sou professora, ouvi muitas colegas dizerem: Nunca trabalhei tanto na minha vida!. Ou seja, além das cobranças no trabalho, as cobranças de casa, que exigem muito de nós também.  E penso que, embora, as situações de cada realidade familiar sejam muito diversas em relação a vários aspectos, a sobrecarga maior sempre recai sobre a mulher”.

Para Denize, a maior dificuldade foi lidar com um inimigo invisível, os medos, as incertezas e as angustias que o cenário desperta em nós.  “Fiquei muito angustiada com tudo o que estava acontecendo. A realidade de um novo vírus, do desconhecido, de ver tantas mortes em tão pouco tempo, de ver tantas pessoas, em diferentes aspectos, terem suas vidas totalmente desestruturadas, do medo de sair de casa e me expor a uma contaminação, me levou a busca pelo equilíbrio e, ao mesmo tempo, pela resiliência”.

Nesse contexto, recursos de diferentes dimensões foram utilizados para auxiliá-la psicológica e emocionalmente, como se conectar com a religião ou a espiritualidade. “Sem dúvida nenhuma, em tempos tão difíceis, principalmente aos mais sensíveis às causas humanas, a minha orientação religiosa e espiritual foi, e tem sido, de fundamental importância para me fortalecer nos momentos de maior fragilidade, que não foram poucos. É nessa dimensão que encontro fortaleza e esperança para acreditar que dias melhores virão, quando tudo isso passar”. 

Betânia - Dia da Mulher.jpgMaria Betânia Dantas - Docente: “Sigamos na luta e na espera de dias melhores, mas sem perder de vista a nossa capacidade de nos amar antes de tudo”

A professora Maria Betânia recorreu ao fortalecimento espiritual e a sessões de terapia para aliviar o nível de estresse e ansiedade devido ao aumento das atribuições como profissional, dona de casa, mãe, filha e estudante do doutorado. “A rotina foi modificada totalmente e as atribuições ficaram maiores, pois com o isolamento, tive que assumir toda a responsabilidade da casa, desde às compras de mantimentos tomando os devidos cuidados até a higienização e faxina mais cuidadosa”.

Além dessas responsabilidades, outro aspecto desafiador, de acordo com a docente, foi compreender a dimensão e a gravidade dos riscos dessa da Covid-19, filtrando as informações corretas, diante de uma enxurrada de Fake News.

Tudo isso, somado ao confinamento despertou em Betânia a necessidade de ser mais compreensiva com a família e entender os conflitos que cada um enfrentava. “A característica feminina maior que eu ressalto foi a preocupação, o cuidado, parar para ouvir as pessoas que necessitavam de uma ajuda, que, às vezes, estavam em condições piores que a minha. Contudo, quando alguma situação, principalmente, de convivência estava insustentável, eu perdia o controle e o estresse falava mais alto”.

Um ano depois do início da pandemia no Brasil, as rotinas já se estabilizaram de acordo com a nova dinâmica de vida, contudo, ainda há muitos desafios para as mulheres. Um deles, na opinião de Betânia, é não perder de vista o nosso “eu”. “Sigamos na luta e na espera de dias melhores, mas sem perder de vista a nossa capacidade de nos amar antes de tudo e nos perceber seres com anseios e necessidades que precisam ser levados em consideração”.

 

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