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Conheça Gileide Silva, uma líder quilombola que faz arte ancestral com barro
Mulher, mãe, artesã, quilombola e presidente da Associação das Louceiras Negras do Quilombo Urbano do Talhado, localizado em Santa Luzia. Gileide Ferreira da Silva, 51 anos, tem uma história de vida digna de lutas e conquistas. Sustenta sua família com o suor e dom das suas mãos. Trabalho árduo que é o artesanato com barro, ela sabe da força que tem e precisa manter para sustentar e honrar a história de mulheres que vieram antes dela e as que virão. “Aprendi essa arte com minha avó e tenho como missão repassar para outras mulheres”, disse.
Gileide comanda a associação da louceiras como presidente há 11 anos e a associação que preside foi tema de projeto de extensão do IFPB Campus Santa Luzia em 2024. O projeto intitulado Emoldurando e fortalecendo a economia ancestral, popular e solidária: valorização do artesanato produzido pela associação das Louceiras Negras do Quilombo do Talhado Urbano de Santa Luzia-PB, e coordenado pela professora de Sociologia Tatiele Souza, teve como objetivo fomentar e valorizar o artesanato, através da produção de material de divulgação para a associação.
De acordo com Gileide, o projeto de extensão do IFPB fomentou a produção de carimbos para as peças, cartões de visita e de divulgação, bolsas, bem como a aquisição de barro para a produção. Artefatos que, inclusive, já estão sendo entregues durante as vendas de louças. “Esse material oriundo da parceria com o Instituto Federal da Paraíba veio para valorizar ainda mais nosso trabalho”, ressaltou Gileide.
Para a coordenadora do Projeto de Extensão, o convívio foi uma grande experiência de partilha. “Foi uma aproximação de mulheres que lutam, em áreas distintas, pelo mesmo objetivo: fortalecimento de mulheres, empoderamento feminino negro, crescimento pessoal e profissional de mulheres. Durante o projeto, pude conhecer o dia a dia de uma liderança que traz um ensinamento importante, presente nas teorias feministas negras: não nos fortalecemos sozinhas, mas em conjunto. Quando a associação melhora, a vida de todas as mulheres melhoram. Para mim, o projeto significou troca de saberes, conhecimento e o reforço da importância da Sociologia como uma disciplina que constrói laços entre saberes científicos e tradicionais”, acrescentou Tatiele.
A aluna Isabella da Silva, bolsista do projeto de extensão, não esconde o orgulho em ter feito parte do trabalho junto à associação. “Gileide é um exemplo para todas nós. Ela trabalha incansavelmente, com dedicação e perseverança, luta pelos direitos da comunidade e traz melhorias significativas para o quilombo. O seu empenho e compromisso são inspiradores e nos motivam a continuar trabalhando juntas para o desenvolvimento da comunidade”.
A associação, formada por cerca de vinte mulheres quilombolas, produz em média 500 peças por mês, que lhe garantem o sustento e a perpetuação de sua ancestralidade. Todo o seu modo de produção foi aprendido na infância com sua avó Rita Preta, a quem tem devoção.
“Mais do que estudar, eu fui uma criança que precisou trabalhar para ajudar na renda da minha família. Eu não tinha tempo para brincar ou estudar, pois, desde os sete anos que produzo arte com barro e, tudo que aprendi foi com minha avó Rita Preta, uma mulher de muita garra”. Gileide e suas companheiras são responsáveis por todo o processo, desde a produção até à comercialização das peças.
Do trabalho de suas mãos, são criadas peças decorativas, panelas, pratos, potes, dentre outras peças. Gileide também é responsável por fazer o bem, para além do material: ela é exemplo de força, garra e união para as mulheres com quem trabalha diretamente. É Gileide quem cuida de toda parte administrativa e de divulgação da associação.
Com um sorriso no rosto, Gileide diz que sempre conciliou o trabalho de artesã e presidente da Associação com o cuidado feminino. Para dar conta de tanta demanda, ela fez malabarismo como toda mulher brasileira. “Cuidei da minha filha, de três sobrinhos filhos de minha irmã, Maria do Céu, morta por feminicídio que são meus filhos também, e de minha avó acometida pelo alzheimer. Não foi fácil mas, consegui com muita fé”.
Clara Marinho - jornalista do Campus Santa Luzia do IFPB