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IFPB homenageia autor de Os Sertões
Ainda repercute a exibição do documentário: “Euclydes: o peregrino das palavras”, ocorrida no auditório José Marques do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), Campus João Pessoa. A exibição ocorreu durante a XI Semana de Ciência e Tecnologia do Instituto e foi uma promoção da Academia Paraibana de Letras (APL) em conjunto com a Reitoria do IFPB. Durante o evento foi realizada uma homenagem a Euclydes da Cunha, autor de Os Sertões, em comemoração aos 150 anos de seu nascimento, além da promoção de debates.
Realizado pela TV IFPB, o ensaio cinematográfico, como o cineasta Willis Leal prefere intitular, é um trabalho de reflexão sobre o processo de escrita inovador e o estilo singular de Euclydes da Cunha, a partir da análise do monumento literário “Os Sertões”, publicado em 1902. O trabalho também aborda o processo criativo de um artista da linguagem, desde suas influências mais remotas, passando por um caos criativo, até chegar à concretização de uma obra. Conta com depoimentos de Ariano Suassuna (escritor), Braulio Tavares (escritor/compositor), Carlos Newton Júnior (professor/escritor), Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes (professor/escritor), Hildeberto Barbosa Filho (professor/poeta/crítico literário), Luiz Paulo Neiva (professor/pesquisador), Manuel Dantas Suassuna (pintor) e Raimundo Carrero (escritor).
O ensaio surgiu através do desejo do pintor e diretor Manuel Dantas Suassuna, que queria homenagear Euclydes da Cunha no ano em que se comemora 150 anos de seu nascimento. O documentário “Euclydes: o peregrino das palavras” conta com roteiro e produção de Cláudio Brito e câmera e fotografia de João Carlos Beltrão. O ensaio retrata a importância de Euclydes da Cunha e de sua obra-prima, Os Sertões, para a descoberta do Brasil profundo e verdadeiro, pelos próprios brasileiros.
Em entrevista com o cineasta Willis Leal, ele falou um pouco sobre a importância do documentário no cenário paraibano. “Ele é um filme que instala e inicia um tipo de produção que nós aqui na Paraíba ainda não havíamos trilhado. Ele cria, estabelece e realiza um tipo de comunicação que foge do documentário e se aproxima do ficcional, em algo que intitulo de ensaio cinematográfico”. “Na hora que escolho luz, iluminação e crio a ambientação eu estou criando algo novo, se distanciando do documentário e caminhando para algo inédito que estamos chamando de ensaio cinematográfico. Nem é ficção e nem documentário, ele é um meio termo que ao mesmo passo que documenta, expressando a realidade documentada, traz em sua formulação os elementos ficcionais”, completa Willis.
Para o professor Hildeberto Barbosa, que participa do documentário como consultor e comentarista, é importante que se apresente este documentário para alunos do ensino fundamental. Pois, segundo Hildeberto, um dos tópicos importantes do filme é poder estimular um contato mais acessível com a obra-prima Os Sertões que, a princípio, é um livro pesado e de leitura cansativa. “O filme serve como uma ponte didática para que o aluno conheça o livro e a figura de Euclides da Cunha. Auxiliando os jovens que não estão habituados com uma leitura mais densa, ajudando a se aproximarem desse universo com o autor”, completa Hildeberto.
Claudio Brito, produtor e diretor do documentário, comentou em entrevista sobre os fatos mais relevantes focados pelos debatedores em relação ao filme. “A importância de estudarmos Os Sertões, de levarmos os alunos e os professores a debater a obra para verificar a sua atualidade principalmente quando se propõe a discutir os contrastes e conflitos entre os dois países que existem no Brasil, conforme dizia Machado de Assis, o Brasil oficial das elites econômicas e o Brasil real dos pobres discriminados. Nesse aspecto, todos foram unânimes em afirmar que o documentário contribui bastante para não somente conhecer o processo de escrita do genial Euclydes da Cunha, mas também para fornecer elementos de análise do monumento literário Os Sertões”, afirma Claudio Brito.
Como resultado do evento realizado no IFPB, Claudio Brito comenta sobre o projeto de uma videoteca no Campus João Pessoa. “Já existe uma videoteca no Campus João Pessoa. Mas a videoteca física chega a poucos expectadores. Discutimos propostas de um acesso maior, dentro da internet, por meio da criação de uma videoteca virtual. Outra proposta foi a de venda dos documentários produzidos pela TV IFPB, que envolveria direitos autorais. Tudo isso tem que ser discutido com o Reitor Nicácio Lopes”. Claudio Brito comenta ainda que é preciso melhorar a distribuição dos documentários produzidos pelo IFPB, que hoje somente chegam a um público interessado por meio do envio de DVDs, que ele mesmo prepara ou manda preparar, ou então por meio de exibições públicas.
Claudio Brito comentou ainda sobre as perspectivas de futuro para o documentário: “A partir do momento que melhorarmos a distribuição dos nossos trabalhos, acredito que o público externo poderá se beneficiar de um patrimônio cultural importante para a formação de cidadãos mais críticos e conscientes. Como, em geral, nossos documentários têm um viés literário, podem também contribuir para despertar o interesse, nos expectadores, pela literatura. Ou seja, além de ajudar a desenvolver uma consciência crítica, acreditamos, com nosso trabalho, que estimulamos a formação de seres humanos mais estéticos e éticos, a partir de uma concepção narrativa”.
Damião Ramos Cavalcanti, presidente da Academia Paraibana de Letras, participou da exibição do documentário no Campus João Pessoa e comentou sobre a importância do evento realizado. “A exibição foi de grande interesse da Academia Paraibana de Letras, que mantem um convênio com o Instituto Federal da Paraíba. Nesse sentido, todos os eventos que têm ocorrido dentro deste convênio têm sido de excelente qualidade”. “No momento, não temos nada melhor sobre Euclides da Cunha, do que este documentário. Iremos divulgar esta obra e fazer com que esteja presente em todas as videotecas, sobre tudo de instituições educativas, para que todos os alunos, do ensino fundamental ao superior, tenham ideia de quem foi Euclides da Cunha. Devemos trabalhar sobretudo divulgando estudos e pesquisas sobre Os sertões, como forma de esclarecer as fontes culturais do nosso pais e os valores da nossa nação”, completou Damião Ramos.
Por Jéssica Soares - Estagiária de Jornalismo
Ficha técnica:
Título: Euclydes: o peregrino das palavras
Argumento: Claudio Brito, Manuel Dantas Suassuna
Roteiro e Direção: Claudio Brito
Direção de Fotografia e Câmera: João Carlos Beltrão
Produção: Claudio Brito, João Carlos Beltrão
Edição: Thiago Andrade
Duração: 100 minutos