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Leonardo Boff profere palestra online em evento do campus Sousa do IFPB

Teólogo, filósofo, professor e escritor abordou a esperança e a biocivilização, no encerramento do InterdisciplinaCidade
por Ana Carolina Abiahy publicado: 15/12/2020 17h52 última modificação: 15/12/2020 18h21

Uma tarde para refletir sobre o momento atual da pandemia e injetar vontade de transformar o mundo para melhor. Este foi o clima do encerramento do evento InterdisciplinaCidade, organizado pelo Campus Sousa do IFPB, nesta terça, com a palestra proferida pelo filósofo, teólogo, professor e escritor Leonardo Boff. “Após uma turbulenta travessia, a renovação da esperança para o recomeço” foi a temática da palestra transmitida online pela TV IFPB, que pode ser conferida neste link

As boas vindas ao palestrante foram dadas pela reitora em exercício, Mary Roberta Marinho, e o organizador do InterdisciplinaCidade, professor João Edson Rufino. O evento foi aberto com a apresentação musical de Vainer Dias Gomes, que escolheu a canção de Guilherme Arantes, “Amanhã”, que se harmonizava com a temática da palestra. O professor João Edson fez uma breve e emocionada apresentação sobre o palestrante destacando o grande ensinamento encontrado ao longo de sua vasta obra: a de vivermos a ética do cuidado com todos os seres na casa comum que é a Terra.

BOFF IFPB evento.jpg No início de sua palestra, Leonardo Boff contextualizou que o novo coronavírus veio da sistemática agressão dos seres humanos à natureza, do antropocentrismo. “Os animais perderam o habitus. Há 300 mil a um milhão de vírus na natureza, nos animais e nas plantas. A espécie humana ocupou 83% da natureza, ocupamos destruindo e agredindo a natureza”, ressaltou, lembrando que o desequilíbrio ecológico colabora para a mutação e a disseminação de novos vírus.

Leonardo Boff destacou que a Terra é um super organismo vivo e que os seres humanos vêm em um crescente processo de poder como dominação da natureza, que nos trouxe vantagens como os antibióticos que prolongaram a vida dos idosos, diminuíram a mortalidade das crianças e tecnologias que trazem benefícios como os encontros virtuais: “Mas criou uma máquina de morte que pode nos destruir de 15 formas diferentes por armas químicas, nucleares e biológicas”.

Ele trouxe alertas do criador do termo biodiversidade: de que cem mil espécies de seres vivos são mortas a cada ano e um milhão de seres vivos estão em alto risco de desaparecer. “Devido a alto industrialismo que tomou conta do mundo, ou mudamos ou colocamos o sistema Terra em risco. O ser humano se tornou o satã da Terra”.

Além de documentos e pesquisas da área ambiental, Boff trouxe reflexões de vários estudiosos e teóricos e destacou as últimas encíclicas do Papa Francisco, que não foram dirigidas apenas aos cristãos, mas a toda a humanidade. O documento papal aborda a necessidade de contrapor à lógica da dominação uma ação de fraternidade.  

“As bases físico-químicas estão tão ameaçadas que ou nos salvamos todos ou ninguém se salva. Há sombras vastas que pesam sobre o planeta. Os conflitos mundiais que temos são uma Guerra Mundial em prestação. O mundo moderno se construiu como a dominação do mundo, mas não podemos continuar assim. Proponho o sonho que antecipa possibilidades reais que podem acontecer, o sonho tem a função de equilibrar a vida psíquica”, resumiu Boff sobre a encíclica. BOFF SOUSA IFPB.jpg

“Precisamos de uma fraternidade ilimitada e de amor universal. Parece utópico, mas não temos alternativa. Não temos Arca de Nóe para salvarmos somente uns”. Boff ressalta que é possível ter uma economia de mercado, mas não podemos ter uma sociedade de mercado, onde tudo tem preço até as relações humanas. O verbo cuidar é algo central na obra de Boff e ele ressaltou que isto deve ser visto como a essência humana. “Precisamos refazer o pacto Terra e Humanidade, nos considerarmos os guardiões da Terra. É preciso incorporar uma responsabilidade ecológica. O planeta finito não suporta um projeto de crescimento infinito”.

O conferencista falou que devemos caminhar para a biocivilização, entendendo que somos parte da Terra e não os seus dominadores. “Santo Agostinho nos fala das três virtudes: o amor, a fé e a esperança. A indignação e a coragem são as irmãs da esperança. Temos de nos indignar contra esta necropolítica e ter a coragem de dar passos para mudar esta realidade. No Brasil ainda não chegamos a este ponto”.

“Este confinamento social tem um sentido para pensarmos qual o sentido da vida, Deus é o apaixonado amante da vida e vai nos ajudar a tomar um salto de consciência. Caminhemos cantando, que os problemas não nos tirem a alegria da esperança, ela terá a última palavra”, finalizou Leonardo Boff. 

A conferência teve uma hora e foi seguida por perguntas dos presentes. A audiência online ultrapassou 320 pessoas. O professor Francisco Tibério de Araújo conduziu as perguntas. O diretor geral do campus, Francisco Cicupira, também acompanhou a palestra, bem como os gestores do IFPB Sousa, e finalizou o evento ressaltando o papel de cooperação que ele traz com as cidades vizinhas. O Projeto InterdisciplinaCidade é voltado para a integração do campus Sousa com os municípios circunvizinhos. Neste ano de pandemia, o projeto focou em palestras virtuais que atraíram plateias de todos os lugares, não só do sertão paraibano.

boff sousa IFPB final.jpg A pró-reitora de Ensino do IFPB Mary Roberta indagou sobre o papel da educação na construção desta biocivilização. Segundo Boff, é fundamental o processo educativo para a construção do novo ser humano, porque o conhecimento formal hoje é facilmente encontrado na internet, mas a assimilação, a compreensão e o agir humanos só são trazidos em convivência.

As perguntas da plateia renderam ainda inspiradoras reflexões de Leonardo Boff que trazemos abaixo: “Não há uma passagem que não tenha dor. A vida não nos dá nada sem um grande trabalho. As grandes empresas têm de fazer lentamente, incorporando novas práticas, com menos poluentes, melhores salários. Mais instituições servindo aos viventes. Temos tarefas grandes a enfrentar. Um novo começo, carregamos uma carga pesada do passado e não nos podemos nos iludir com o passado”.

“O mal não é para ser compreendido é pra ser superado pelo bem. O ser humano é um projeto infinito temos virtualidades para desenvolvermos”.

“Tivemos civilizações de destruir pontes. Este tempo deve passar, não pode mais ser prolongado porque pode trazer a nossa destruição”. 

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