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Mulheres que transformam Mulheres
“Eu comecei ‘na maré’ com cinco anos de idade para ajudar minha mãe a sustentar a nossa casa. Minha infância foi boa, mas foi marcada pela responsabilidade de ter que trabalhar para poder comer”. A história da marisqueira Marta Soares, a Mariquinha, é marcada por lutas e desafios desde a infância.
Natural de Arara-PB, Marta tinha apenas um ano quando veio morar na Ribeira, pequeno distrito de Santa Rita-PB, localizado às margens do Rio Paraíba. Assim como as demais mulheres de sua família, ela teve que largar a escola cedo para trabalhar, só conseguindo concluir o segundo ano do Ensino Fundamental.
Além do trabalho na maré, para complementar a renda, Marta passou boa parte de sua juventude trabalhando como doméstica, quando teve seus primeiros filhos. Diante de sua situação financeira, ela teve que abrir mão das crianças. “Como eu não tinha condição nenhuma de criar eles e vivia mais nas casas dos outros, eu tive que dar eles. Um ficou com uma família de João Pessoa e a menina foi criada por uma família de Itabaiana. Hoje, eu só tenho contato com o menino. É uma situação muito difícil para uma mãe e muita gente me critica, mas só eu sei o que passei na época”, explica. Marta teve mais dois filhos e conseguiu criá-los com a renda adquirida da pesca.
Em 2015, a marisqueira teve sua vida transformada pelo projeto “Trabalho e empoderamento: investindo na autonomia econômica das mulheres”, realizado através da Incubadora de Empreendimentos Solidários (INCUTES) do IFPB, com o objetivo de viabilizar a concretização e o aperfeiçoamento da produção realizada por mulheres para contribuir na conquista da autonomia econômica, como uma das formas de empoderamento mediado pelo trabalho. Assim como Marta, a ação englobou mulheres das comunidades Engenho Velho e São José, em João Pessoa, e no município de Pedras de Fogo.
O projeto, também comandado por uma mulher, realizou diversas ações como oficinas direcionadas a melhoria do produto e a gestão do trabalho, a troca de experiências para o fortalecimento das relações interpessoais e produtivas e aquisição de materiais de acordo com as demandas e necessidades da produção de cada grupo atendido. “Além disso, disseminamos noções de cidadania entre as beneficiadas. Muitas sequer consideravam suas atividades como um trabalho e, juntas, conseguimos inseri-las, por exemplo, na Previdência Social”, destaca Josi Batista, coordenadora da ação.
Marta conta que entrou no projeto por acaso. “Eu conheci a professora Josi através de uma amiga minha de Cabedelo, que catava marisco comigo. E ela falou do trabalho que Josi realizava com as meninas do bairro São José, que ela fazia cursos e ajudava lá. Então eu chamei minha tia, minhas duas irmãs e minha mãe e começamos a participar dos encontros”.
Para participar das atividades do projeto em João Pessoa, Marta e sua família passaram por diversas dificuldades, uma delas, em relação à locomoção. “A gente pegava o barco da Ribeira para a Praia do Jacaré e de lá pegava o trem para João Pessoa. Era mais de uma hora para conseguir chegar lá”. Mas, segundo a marisqueira, todo sacrifício valeu a pena. “Eu aprendi muitas coisas e hoje sou muito grata a professora Josi e toda equipe do IFPB porque eles mudaram não só a minha vida, mas a vida de toda minha família”.
Para as mulheres que passam ou já passaram por situações semelhantes a dela, Marta deixa uma mensagem de motivação e coragem. “Eu acredito que toda mulher já nasce guerreira, batalhadora. E, como estão acontecendo muitas coisas ruins com nós, mulheres, temos mesmo é que nos unir e sermos cada vez mais independentes e empoderadas!”
Verônica Rufino - Comunicação PROEXC