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Nova Paternidade: a busca pela afetividade e pela presença

Professor e psicólogo fala sobre o movimento que aproxima pais e filhos
por Patrícia Lins publicado: 07/08/2023 12h03 última modificação: 08/08/2023 17h53

Em comemoração ao Dia dos Pais, que acontece no próximo domingo, a Diretoria Geral de Gestão de Pessoas (DGEP) preparou duas matérias especiais a serem publicadas esta semana.

A primeira traz uma entrevista com o Professor do Campus Campina Grande e Doutor em Psicologia Lauriston de Araújo Carvalho. O docente, que é pai de Gabriel (1 ano), falou sobre o movimento conhecido como "Nova Paternidade", que propõe uma mudança de atitude em relação à paternidade tradicional, baseando as vivências entre pai e filho no afeto, na compreensão e na presença.

O tema escolhido para a campanha deste ano foi "Pai: amor em todos os momentos" e tem por objetivo ressaltar a importância da participação efetiva dos pais na vida de seus filhos e filhas.

 


foto3 (2).jpgDGEP: 
Você acha que ser pai, nos dias atuais, é diferente do que acontecia com gerações anteriores? A que se deve essa mudança?

LAURISTON: Acredito que sim! A velocidade e acesso à informação tem possibilitado, felizmente, a reflexão crítica de valores, costumes da nossa cultura que distanciam os homens da criação dos(as) seus(suas) filhos(as). Entendo que nossos avôs e pais vivenciaram uma Paternidade Tradicional, em que o papel estabelecido era o de ser essencialmente “provedor”, “chefe da família”, ser a “voz da autoridade-razão”. Esse papel, que ainda existe, foi revisitado convivendo com uma Paternidade Presente. Embora este novo papel já seja um baita avanço, há um passo à frente que está sendo dado que é o da reivindicação pelos próprios homens dessa paternidade mais presente, que acredito ser uma Nova Paternidade que está surgindo. Uma paternidade em que a relação com o filho(a) é baseada na afetividade, experiência, presença e respeito à individualidade da criança. Embora possamos ver mudanças claras na forma de exercer a paternidade, vem aumentando estatisticamente o número de homens que abandonam seus filhos(as). Os dados da Arpen (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais) mostram que o percentual de crianças registradas com “pai ausente” passou de 5,5% em 2018 para 6,9% em 2023 (considerando o período até 6 de junho). Esse é um dado importantíssimo que temos que ficar atentos.


DGEP: Você falou na construção de uma “nova paternidade”. O que seria?

LAURISTON: A Nova Paternidade seria a reinvindicação pelos próprios homens-pais de que querem exercer uma paternidade diferente da que lhes foi ensinada, que é mais afetiva, presente, baseada na experiência e respeito à individualidade da criança. Estamos começando a entender que determinados papéis de gênero, que muito privilegiam os homens de um lado, também trazem prejuízos de outro lado. Os papéis mais tradicionais de exercer a paternidade nos tirou a possibilidade de participar da criação dos(as) nossos(as) próprios(as) filhos(as), pois esta não seria a nossa função. A grande maioria de nós homens nunca pensou sobre "ser pai", até ter a notícia da chegada do(a) primeiro(a) filho(a). Por experiência própria, nós sabemos quase nada e o que nos sobra são esses ensinamentos e valores da nossa cultura da paternidade mais tradicional. Esses ensinamentos-valores, quando não refletidos criticamente, têm impactos significativos, por exemplo, na presença do homem-pai na criação dos(as) seus(suas) filhos(as) e na manutenção da própria família. Essa talvez seja parte da resposta para a pergunta que muitas pessoas fazem, que é: por que meu esposo-companheiro-pai não é presente na criação do(a) nosso(a) filho(a)? Isso se explica porque, desde que se cumpra o que culturalmente lhe é exigido (ser o provedor, “pagar as contas”, dar a pensão), torna-se aceitável não se fazer presente e até abandonar. Quando refletimos sobre essas questões, é uma verdadeira descoberta. Cai a ficha de que estaremos com nossos(as) filhos(as), enquanto bebês, apenas por duas primaveras. Que seremos os seus melhores amigos por mais outras seis primaveras depois disso, porque aí eles(as) já vão fazer novos amigos(as). Cai a ficha de que o “trabalho que eles(as) dão” é o mais legal, faz parte da experiência e já já sentiremos saudades de tudo isso. Cai a ficha, por exemplo, de que nosso(a) filho(a) nos escolheu. Que ele(a) veio ao mundo para nos ensinar. Que suas características não são defeitos, mas ensinamentos, aprendizados e passamos respeitá-lo(la), admira-lo(la) e amá-lo(la) do jeito que ele(a) é! Quando refletimos sobre todas as essas questões, a vida parece começar de verdade naquele momento, tudo começa a fazer sentido e queremos ser pais o máximo possível. Enfim, os(as) filhos(as) nos fazem acreditar todos os dias que é possível um mundo melhor. Ter filhos(as) é experimentar um pouco o contato com o que é divino e eterno.


foto3 (1).jpgDGEP: Qual o caminho para ser um pai que exerce com dedicação o seu papel?

LAURISTON: Entendo que o primeiro passo nesse caminho começa dentro de nós. É preciso estar aberto à mudança. Ser pai é estar aberto à mudança e ao aprendizado constante. Isso passa pela percepção da mudança da prioridade na vida. Até então, tudo passava pela nossa vontade, pelo nosso tempo, nós éramos a prioridade da nossa vida. Agora não, a prioridade é o(a) seu(sua) filho(a), a necessidade dele(a). Quando a gente entende isso, as demandas de se ter um(a) filho(a) (que são muitas) tornam-se mais leves. O grande “pulo do gato” é encontrarmos equilíbrio em ter o(a) nosso(a) filho(a) sem nos esquecermos de nós mesmos, da nossa individualidade enquanto sujeitos, homens, que também são esposos-companheiros, e pertencem a uma família. Vejo também que é fundamental se informar sobre o “ser pai”, a fase da paternidade de modo geral. A literatura é escassa, mas existe. Um bom livro para adentrar nesse universo é o “Papai é Pop”, do Marcos Piangers. Outra questão fundamental é estar a todo momento refletindo sobre o papel de pai. Não aceitar passivamente o que os outros dizem ou o que a sociedade espera que você faça. Cada relação pai e filho(a) é única. A paternidade é construída de forma particular todos os dias e o que essa nova geração de pais tem em comum entre si é a busca em exercer a paternidade de forma autêntica, mais afetiva, baseada na experiência, presença e respeito às diferenças e individualidade do(a) filho(a). Por fim, para quem é pai, ou que ainda não é, mas pensa em ser algum dia, abrace essa oportunidade, aproveite cada momento e celebre a paternidade com entusiasmo e gratidão. Ser pai é criar um laço de amor e confiança com alguém que é parte de você, mas que também é diferente de você. É estar presente, atento e carinhoso.