O empoderamento das mulheres artesãs e marisqueiras de Cabedelo é um testemunho vivo da força e da resiliência que permeiam as comunidades pesqueiras. A oferta do Projeto “Artesãs das Águas” nas comunidades pesqueiras de Cabedelo, desencadeou uma transformação profunda, não apenas na forma como essas mulheres se enxergam, que muitas vezes têm o seu trabalho categorizado como de ajuda ao marido ou a casa, mas também na dinâmica social e na solidariedade que floresceu entre elas.

Durante o decorrer do projeto, as alunas não apenas se aprimoraram na produção de peças de decoração e biojóias feitas a partir de resíduos da pesca, mas também foram capacitadas a reconhecer o valor do trabalho artesanal e da atividade de mariscagem como ocupações valorosas. Esse reconhecimento se fundamentou no conhecimento dos seus direitos previdenciários, em enriquecedoras rodas de conversa que abordaram questões como a desigualdade de gênero, a saúde da mulher e a busca pela qualidade de vida. Discussões que não só ampliaram a consciência das participantes, mas também fortaleceram seu senso de identidade e empoderamento, posicionando-as como agentes de transformação em suas comunidades.

A professora Adriana Castilho expressou como a experiência foi enriquecedora, indo além das expectativas iniciais. Ela ressaltou que, embora a intenção fosse ensinar, foram as próprias mulheres que compartilharam lições poderosas de solidariedade. Um exemplo marcante foi a participação de uma monitora cega, que não encontrou nenhuma barreira para se envolver plenamente no curso.

A atitude das mulheres em relação à inclusão foi exemplar. Elas agiram com empatia e apoio, oferecendo suporte e orientação à monitora. Essa demonstração prática de solidariedade transcendeu as fronteiras da sala de aula, refletindo-se no tecido social mais amplo da comunidade.

Maria Eduarda Alves de Sousa, estudante do último ano do Curso Técnico em Serviços Jurídicos, nutria há muito o desejo de se envolver em atividades de extensão. Contudo, a oportunidade para realizar esse sonho surgiu inesperadamente enquanto ela se preparava para uma competição esportiva, na qual atuava como atleta. Ao tomar conhecimento do Projeto Artesãs das Águas, Maria Eduarda enfrentou uma hesitação compreensível. Como uma pessoa com deficiência visual total, ela questionou: "Como posso contribuir para o projeto?" Apesar das dúvidas, Maria Eduarda optou por aceitar o desafio de participar e, para sua alegria e surpresa, foi selecionada como monitora. Essa decisão não apenas demonstrou sua coragem e determinação, mas também revelou sua disposição em superar obstáculos e fazer a diferença, inspirando aqueles ao seu redor com sua resiliência e dedicação.

“Fiquei muito feliz pela oportunidade, quando eu entrei no projeto eu me senti tão acolhida e foi muito especial para mim, ficou no meu coração. Eu estava lá como bolsista, mas aprendi muito. Ajudou muito minha autoestima, ajudou a minha mãe que também foi aluna do curso e ajudou a todas que participaram. Que experiência incrível!”, conta Eduarda.

Artesãs da comunidade contribuem com o curso de extensão

A artesã Rosilene Mariano da Silva, que já atuava na Associação das Pescadoras Marisqueiras de Cabedelo, foi selecionada para compartilhar a sua experiência, atuando como professora do curso, na área de artesanato e como aluna para a formação geral. Ela também contribuiu para a formação do grupo de alunas que foram capacitadas pelo IFPB. Para ela, a experiência trouxe um direcionamento na sua vida. “Eu aprendi bastante coisas e estou mais fortalecida graças a Deus e ao curso do IFPB. Foi maravilhoso e muito importante para mim”, comentou Rosilene.

Outra artesã experiente que atuou como professora no Projeto Artesã das Águas foi Vanja Barbosa de Almeida. “Como artesã, já há alguns anos, para mim, foi uma experiência excelente porque nós estamos sempre aprendendo e nunca sabemos de tudo. Por isso, queremos aprender mais. Foi o que aconteceu comigo, eu aprendi novas técnicas e para mim foi de grande valia", disse Vanja.

“Particularmente não considero que participar desse projeto tenha sido um trabalho na verdade foi um presente. Passar um semestre convivendo com essas mulheres, aprendendo com elas, conhecendo suas histórias de vida, suas dificuldades, suas alegrias, seus saberes e a generosidade com que essas mulheres compartilham seus conhecimentos e se ajudam durante momentos de dificuldade. E foi incrível, uma experiência que eu levo para a vida”, comentou a professora Ariana Guimarães. 

Todas as alunas que concluíram o curso puderam fazer a sua carteirinha de artesã. A maior parte das alunas do grupo continua integrada na colônia de pescadores de Cabedelo. “Lá elas organizam feirinhas esporádicas também e vendem seus produtos. Também participaram do Salão do Artesanato Paraibano. Elas estão mais do que prontas e ocupando seus espaços”, conclui Ariana. 

Iris Souto Maior - jornalista do IFPB