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Educação e união feminina como caminhos para autoestima e mudança de vida

Conheça a trajetória inspiradora de uma egressa do IFPB neste Mês da Mulher
por Ana Carolina Abiahy publicado: 23/03/2024 08h20 última modificação: 25/03/2024 14h08

“A educação muda vidas e a união faz a força”. Estamos acostumados a ler estas afirmações, mas é inspirador quando encontramos pessoas na vida real dando o testemunho de quanto a oportunidade de estudar pode mudar uma trajetória e como a partilha e o engajamento nos levam para frente. Neste mês da mulher, encontramos mais uma personagem do Instituto Federal da Paraíba que teve sua vida transformada pelas oportunidades geradas em nossos cursos e por todo o ambiente proporcionado a partir de uma associação de mulheres. 

Aldilene Martins da Silva tem 36 anos, é moradora de Pedras de Fogo, tem uma filha de 18 anos e um filho de 14, divorciada, e uma das primeiras estudantes do Campus avançado do IFPB na cidade. Ela concluiu os cursos técnicos de Formação Inicial e Continuada (FIC) que foram os primeiros do IFPB a funcionar no município Customização e Sustentabilidade em Moda e Mecânico em Máquinas de Costura e também é técnica subsequente em Modelagem do Vestuário. 

 aldilene IFPB costura - Copia.jpegMais do que certificados, Aldilene coleciona vitórias e nos mostra o quanto o interesse inicial pelo estudo pode nos levar sempre mais longe, especialmente quando se é mulher em um país onde tradicionalmente as barreiras para o gênero feminino são maiores. Aldilene parou de estudar quando engravidou aos 18 anos e não pôde concluir o Ensino Médio. A partir daí, a vida foi uma luta pela sobrevivência e uma interrupção dos sonhos. 

Ela conta que trabalhava como manicure em casa, fazia faxinas para complementar a renda e também artesanato com colagens. “Quando eu tava com 17 para 18 anos eu engravidei e tive que deixar de estudar. E para trabalhar era complicado: eu deixava meus filhos com quem? Tinha que me virar em casa porque o marido dava o básico. Não era fácil porque para onde eu ia, se ia fazer uma unha tinha que carregar eles. E eu tinha este pensamento quando não tinha ensino médio, me sentia uma pessoa fora do mundo, tinha vergonha, desviava desta pergunta”, desabafou Aldilene. 

 aldilene IFPB monitora - Copia.jpeg“A mudança de chave”, como ela mesma diz, aconteceu ao conhecer o trabalho da Associação de Mulheres Águias de Pedras de Fogo, por meio da presidente Joana Preta, e começou a aprender a costurar bolsas e pesos de porta. A Associação já era ligada à Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Solidários (Incutes) do IFPB e desenvolve um trabalho de geração de renda para mulheres através da costura. 

‘Quando eu comecei a participar da associação, minha visão de vida mudou. Melhorou em tudo: a autoestima, a possibilidade de terminar meus estudos. A  gente sempre pensa que não vai conseguir, mas com o apoio das meninas da associação (que já era incubada pelo IFPB), comecei a participar dos cursos, e os meninos também viram isto como uma possibilidade de enfrentar a vida com eles”, rememora Aldilene.

aldilene IFPB PF - Copia.jpegDepois do contato da Associação com o IFPB, mais especificamente com a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, Aldilene chegou até o campus avançado de Pedras de Fogo, se tornando uma das primeiras alunas dos cursos de qualificação profissional. Para poder ingressar no primeiro curso técnico subsequente do IFPB no município, era preciso ter concluído o Ensino Médio e Aldilene terminou aos 34 anos. 

A partir daí, ela se engajou no projeto de extensão que fazia máscaras durante a pandemia, se tornou monitora de cursos FIC e do próprio curso técnico, na disciplina de Modelagem. Aldilene foi monitora de curso FIC de Costura no campus Princesa Isabel do IFPB, auxiliando a professora Nicea Ribeiro, com quem desenvolve projetos para mulheres em vulnerabilidade social. Entre eles, o Moda na Praça que já se consolidou na cidade de Pedras de Fogo. Ela diz que é curiosa em aprender e já se envolve em projetos até na área de marcenaria ou como pedreira. 

aldilene IFPB aulas - Copia.jpeg “Só concluiu os estudos quando me separei, quando eu tava casada não tive apoio. Os cursos foram uma maravilha, hoje eu sou técnica, tenho meu diploma, trabalho com artesanato, deixei de ser manicure, trabalho como costureira em casa, com bolsas, conserto de roupas, enxovais para criança, cama, mesa e banho”, relata Aldilene, feliz pela melhora na renda e pela satisfação em trabalhar com algo que aprendeu a amar. 

Aldilene diz que sempre pega no pé da filha que hoje está no terceiro ano do ensino médio para que agarre a oportunidade de estudar porque isto lhe abre portas. Hoje, Aldilene tem planos de fazer uma graduação em Moda, pretende se aprimorar mais e fazer outros cursos, para no futuro ser uma professora de Moda. 

Muito além do ganho material, o que Aldilene destaca na conversa é que a possibilidade de estudar lhe fez enxergar melhor os próprios problemas pessoais e o apoio de outras mulheres, como as amigas da associação, lhe levaram a superar as dificuldades. 

aldilene IFPB TCC.jpeg “Quem me vê assim de pé, não vê que eu tive depressão, pensamentos de ansiedade, de suicídio, não acreditam. Quando eu tava perdendo as forças, e eu tinha dois filhos, e um relacionamento abusivo, eu percebi que a vida só dependia de mim. Não me separava com medo de seguir a vida com dois filhos, ser mãe solteira. Mas, não vale a pena ficar com alguém que só pagava um aluguel e só me botava para baixo. Quando percebi isto e me libertei, hoje eu tenho meu amor próprio. Não me arrependo de ter tido meus filhos pequenos, tenho a agradecer, tudo que passei me fez ser a mulher que sou hoje, batalhadora e guerreira, e sigo a vida assim sem ter rancor do marido que tive. Ninguém pode me fazer mal, só se eu deixar. Meu bem estar não depende de ninguém, só de mim”. Este é o recado de Aldilene Martins, egressa do IFPB, para outras mulheres que também pretendem se libertar dos limites e seguir em busca de sonhos.