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Entre a pesquisa e a vida doméstica, um exemplo de mulher na ciência

Matéria especial em comemoração ao Mês da Mulher revela rotina de estudante do IFPB
por Angélica Lúcio publicado: 13/03/2024 15h05 última modificação: 13/03/2024 15h26

Samara Nascimento ingressou no Instituto Federal da Paraíba por incentivo dos pais. O ano era 2008, e o IFPB ainda era chamado de Cefet. Naquela época, ainda não havia Instagram, Inteligência Artificial generativa e nem sequer se ouvia falar em Indústria 4.0. De 2008 para cá, porém, 16 anos se passaram e o mundo mudou muito. A vida de Samara também: concluiu o curso técnico, arrumou emprego, casou, engravidou, deixou de estudar, mudou de cidade, teve três filhos, retomou os estudos e está prestes a concluir o curso superior de Automação Industrial no Campus João Pessoa. 

Samara 1.jpeg“Busquei ingressar no IFPB, na época Cefet, por incentivo dos meus pais. Entrei no ano de 2008, no curso Técnico em Eletrotécnica, influenciada por meu pai. Eu me formei como técnica no ano de 2012. Passei um ano trabalhando com carteira assinada na empresa que prestava estágio e só vim prestar vestibular para o ano de 2013”, conta Samara.

Ela explica que havia colocado como opção de curso Engenharia Elétrica e Automação Industrial, mas também havia se inscrito para Engenharia Elétrica na UFCG (Universidade Federal de Campina Grande). “Porém, minha pontuação não foi suficiente para entrar em nenhuma das engenharias e ingressei no curso de Automação. Cursei dois períodos do curso e prestei vestibular novamente para o ano de 2014, quando consegui ingressar em Engenharia Elétrica, na UFCG. Estudei lá de 2014 a 2016. Foi quando engravidei do meu primeiro filho e tive que retornar para João Pessoa”, narra.

Samara casou, teve o primeiro filho em 2017, mas já tinha planos de voltar a estudar. “E dessa vez já era certo voltar a cursar Automação, devido ao tempo de curso ser mais curto e à possibilidade de conciliar melhor com minha rotina doméstica”, explica. E deu certo: ela ingressou novamente no curso no período 2019.2 e, mesmo com uma segunda gravidez, conseguiu acompanhar as aulas. “Engravidei novamente em 2020. E como as aulas passaram a ser online por conta da pandemia, consegui conciliar o parto e os cuidados com o bebê, mesmo com as aulas. Claro, obtive bastante ajuda da minha mãe na época”, diz.

Além de apoiar Samara na conquista de seus sonhos, a mãe da estudante, Maria Odete Teixeira, é exemplo de amor aos estudos desde sempre. Inclusive, foi assim que começou o interesse da aluna do IFPB pela ciência. “A procura pelo conhecimento veio de berço. Minha mãe foi professora, então houve sempre o incentivo para os estudos. Ela também participava de um grupo de pesquisa, na área da geografia, dentro da UFPB. E vez ou outra, eu estava com ela, vendo seus trabalhos, análises e pesquisas”, revela. 

Além disso, também houve influência do pai, Vairton Santos do Nascimento. “Sempre fui muito curiosa e me encantava escutar meu pai falando sobre seu trabalho”, revela. O pai de Samara também é um egresso do IFPB: formou-se como técnico em Eletrotécnica quando a instituição ainda era chamada de Escola Técnica e sempre trabalhou na Energisa (entrou lá quando a empresa ainda era conhecida como Saelpa, antes da privatização). “Minha mãe também estudou na Escola Técnica, mas não chegou a se formar como técnica”, pontua Samara.

Estudante é estagiária do Laboratório Assert

Natural da capital paraibana, Samara tem 31 anos e é um exemplo de persistência e também de mulher que se destaca nas ciências. A estudante já concluiu a grade de disciplinas do curso de Automação Industrial e, no momento, trabalha para finalizar seu Trabalho de Conclusão do Curso (TCC), cujo tema é “Controle de Temperatura com Controlador PID para Protótipo de Selagem por Termofusão”.

Samara e família 1.jpegNão se engane: boa parte das 24 horas do dia de Samara não são exclusivas para o TCC. Ela também precisa dividir seu tempo com os cuidados com a casa, o marido e os três filhos. Sim, é um grande desafio conciliar a vida acadêmica com a vida pessoal e doméstica. Mas cuidar da família é sua prioridade. “O maior desafio é não esquecer a prioridade da minha vida: minha família. A rotina muitas vezes consome minhas energias, confesso, mas busco estar sempre atenta às necessidades dos meus pequenos e do meu esposo”, diz.

E não é fácil mesmo. Samara ainda desenvolve atividades de pesquisa na Unidade Embrapii do IFPB, localizada no Polo de Inovação, onde é estagiária no Laboratório Assert.  “O laboratório me proporciona um aprendizado constante”, conta a estudante. Ela relembra que,  durante as aulas de CNC, o professor falou sobre o Laboratório Assert e explicou como era a dinâmica do local. “Achei super interessante, principalmente por poder colocar em prática o conhecimento adquirido no decorrer do curso”. 

Logo após a pandemia de covid-19, Samara se candidatou a uma vaga de estágio na área de sistemas para manufatura. Concorreu com quatro colegas, todos do gênero masculino, e foi aprovada. Os trabalhos começaram em maio de 2022. Inicialmente, ela atuou com desenho mecânico, mas depois foi transferida para atuar na área de automação, em que trabalha com programação, montagem de painéis e instalação de equipamentos relevantes aos protótipos, dentre outras atividades. 

Samara 2.jpegAntes de se interessar pela área de sistemas de manufatura e automação, na verdade, o foco de Samara era a área de elétrica, especialmente a de distribuição de energia. “Escolhi Automação por ser uma área afim da engenharia elétrica, e meu pensamento era desenvolver algo voltado para distribuição de energia, controle de sistemas elétricos. No decorrer do curso e com a vivência no laboratório, me fizeram ter um outro olhar, o que abriu outras possibilidades que antes eu não havia experimentado”, explica. “E estar em um ambiente de pesquisa tem sido muito satisfatório para mim”, complementa, ainda em referência ao trabalho que desenvolve no Laboratório Assert. 

Prestes a concluir a graduação em Automação Industrial, Samara não pensa em encerrar sua participação no Laboratório Assert. “Pós conclusão do curso, pretendo continuar no laboratório, aprimorando meus conhecimentos, com esse olhar voltado para projetos industriais”, afirma. 

Com tanta disposição, claro que Samara tem uma mensagem para as mulheres que, assim como ela, desejam uma carreira em pesquisa científica. “Estar em uma área de pesquisa é desafiador. Então diria para elas não terem medo de se lançar, de se permitir a serem desafiadas e descobrirem o quão capazes podem ser”. 

Angélica Lúcio- Jornalista do IFPB