Brasil e Alemanha estão cada vez mais perto de fortalecer ainda mais os seus laços nas áreas de agricultura, desenvolvimento rural sustentável e educação na reforma agrária. Essa aproximação é fruto de uma iniciativa conjunta entre o Campus Sousa do IFPB e instituições brasileiras e alemãs que possuem um longo histórico de trabalho com as questões agrárias e o desenvolvimento do campo como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Rede Solivida e o Movimento Católico da Juventude Rural da Alemanha (KLJB).

Em uma de suas primeiras atividades, a articulação interinstitucional trouxe ao Brasil uma comitiva formada por 15 jovens camponeses e o padre alemão Bernhard Hante para conhecer iniciativas ligadas à reforma agrária e à educação com ênfase nas ciências agrárias. O grupo chegou ao Brasil em julho e teve a oportunidade de visitar assentamentos no Alto Sertão da Paraíba e conhecer os modos de vida e trabalho das comunidades que vivem nessas propriedades.

Ainda dentro dessa agenda, a comitiva alemã fez uma visita à fazenda-escola de São Gonçalo acompanhada por membros da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Rede Solivida e pela equipe do Campus Sousa. Na ocasião, os servidores do campus apresentaram aos visitantes as instalações e as diversas atividades agropecuárias que são realizadas nas Unidades Educativas de Produção (UEPs), que abrangem áreas como a bovinocultura, a suinocultura e a ovinocultura, por exemplo.

Antônio Cleides, presidente da Rede Solivida e membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT), relatou algumas das percepções do grupo alemão durante a visita ao Campus Sousa. “Os jovens gostaram bastante da visita ao campus e elogiaram a possibilidade de fazer uma formação técnico-profissional concomitantemente com o ensino médio. Eles também manifestaram entusiasmo quanto à oportunidade que os estudantes do campus têm de verticalizar os estudos e cursar o ensino superior na mesma instituição em que realizaram o ensino médio”, o que demonstra a boa aceitação de uma das propostas-chave do IFPB e da Rede Federal de Educação, Ciência e Tecnologia.

O encontro também serviu para fortalecer a articulação em torno de uma proposta que deve trazer benefícios significativos para jovens assentados da reforma agrária no semiárido nordestino: a oferta de um curso de residência agrária que contará com um período de intercâmbio na Alemanha.

O curso de Residência Agrária Jovem deverá ser ofertado pelo IFPB Campus Sousa e ter duração de dois anos, com um período de 90 dias em terras alemãs. Em princípio, o curso será ofertado como uma formação pós-Ensino médio, mas os organizadores também estudam a possibilidade de disponibilizá-lo na modalidade Tecnólogo, que funciona como um curso de graduação.

Antônio Cleides explicou ainda que “o curso será construído em conjunto pela Rede Solivida e pelo IFPB a partir dos critérios estabelecidos pelo Pronera para a elaboração da grade curricular e para a seleção dos estudantes que vão fazer a residência. A ideia é formar uma turma que tenha entre 20 e 30 jovens assentados da reforma agrária no semiárido nordestino. As nossas expectativas quanto aos impactos da residência agrária nas vidas dos estudantes são as melhores possíveis: o fortalecimento de seus projetos de vida, a capacitação nas tecnologias de convivência com os biomas, a troca e a construção de saberes, a capacidade de enfrentar os efeitos do clima, a geração de renda e a permanência deles na terra”.

O Diretor-geral do Campus Sousa, professor Chico Nogueira, exaltou a iniciativa e falou sobre o protagonismo que a instituição tem desenvolvido junto a outros importantes atores do alto sertão paraibano. “Ao longo da nossa história enquanto campus, desde que ainda éramos Escola Agrotécnica e nos últimos anos como IFPB, nós construímos uma relação muito boa com os movimentos sociais do nosso território. Então a escolha do Campus Sousa como instituição ofertante de um curso que envolve a cooperação entre o governo brasileiro e diversas instituições que lidam com as questões agrárias no Brasil e na Alemanha é muito gratificante porque ilustra o reconhecimento da nossa trajetória na formação de pessoas e no apoio à agricultura familiar e aos movimentos sociais da nossa região", afirmou. 

O gestor destacou ainda as suas expectativas para a concretização da oferta do curso de Residência Agrária pelo Campus Sousa. "Esse curso será muito rico porque vai prever que jovens agricultores do semiárido nordestino possam conhecer as dinâmicas da produção agrícola e o ensino de técnicas agrícolas na Alemanha, um país que alcançou um nível de desenvolvimento significativo e que tem na agricultura uma importante atividade econômica. Então, nós agora partimos para as negociações e para a etapa de captação de recursos para que o projeto seja colocado em prática e os nossos estudantes possam iniciar os seus cursos, realizar o intercâmbio na Alemanha e retornar com os conhecimentos adquiridos para o alto sertão”, concluiu o professor.