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Mês Nacional da Consciência Negra é celebrado no IFPB

NEABIs têm sido fundamentais na construção da cidadania
por Ana Carolina Abiahy publicado: 19/11/2024 17h44 última modificação: 20/11/2024 09h11

O ano de 2024 é o primeiro em que a data de 20 de novembro será Feriado Nacional pelo Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Desde 1978, o movimento negro luta para que o dia seja lembrado pelos brasileiros marcando a data em que Zumbi dos Palmares foi assassinado lutando contra o escravismo, em 1695. 

A data foi incluída no calendário escolar em 2003, mesmo ano em que "História e Cultura Afro-Brasileira" foi inserida como parte do currículo oficial de toda a rede de ensino. O Dia Nacional foi instituído em 2011 e, a partir de então, mais de mil municípios e cinco estados o adotaram como feriado. Em 2023, após aprovação do Congresso Nacional, o Feriado Nacional foi sancionado em dezembro pelo presidente Lula. 

No Instituto Federal da Paraíba, a data já é lembrada há anos por meio de programações que marcam o Mês da Consciência Negra, trazendo a tona a luta contra o racismo, a valorização da identidade afro-brasileira e discutindo a inclusão plena da população negra, longe da desigualdade e discriminação. Desde o início do mês, diversos campi promoveram eventos com a temática. A maioria foi organizada pelos Núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabis) existentes nos campi. 

Neabis atuam na educação das questões étnico-raciais 

Os Neabis tentam trabalhar as questões da educação étnico-racial ao longo de todo o ano. O coordenador do Neabi do campus Cabedelo Centro, José Walter Silva e Silva, diz que percebe uma evolução da temática sendo tratada pelas instituições de ensino, principalmente pela atuação comprometida das pessoas que trabalham nas escolas e que são oriundas de movimentos sociais.walter ifpb prof.jpeg

“A evolução vem acontecendo por pressão dos educadores que fazem parte dos movimentos sociais e que atuam e contribuem com esta discussão. Porque a escola é um recorte da sociedade. Se tem professores que atuam nas manifestações culturais afrodescendentes e que pesquisam a intelectualidade, a filosofia e a história do povo negro acabam provocando esta abordagem e contribuindo para a perspectiva étnico racial. Hoje se fala mais abertamente sobre os movimentos negros e a religiosidade afro-brasileira que sempre foi muito forte”. 

O professor da área de Economia fala da dificuldade de se trabalhar a temática de modo transversal como prescreve a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Ele questiona o desinteresse da maioria dos docentes nas escolas brasileiras de trabalhar a temática em suas disciplinas. 

itaporanga ifpb 3.jpegWalter lembra que não basta se declarar não-racista, é preciso atuar pelo protagonismo do povo negro e adotar práticas antirracistas para enfraquecer o pensamento racista. “Muitas pessoas não percebem a necessidade de que a sociedade seja transformada. Não basta ser contra, mas o que elas fazem para esvaziar a palavra do racista?”, indaga o docente. 

“Não são leis isoladas. Elas alteraram a LDB, estão na Lei maior que rege a nossa educação que é preciso se trabalhar as relações étnico-raciais. Mas, existem aqueles que se opõem a estas práticas, ou que não se interessam de incluir esta discussão e outros que se escondem, dizendo ‘não sei como trabalhar com isto, minha disciplina não é das humanas’”, comenta. 

Segundo Walter, é impossível dizer que não se tem conteúdo a ser trabalhado. Ele cita que o Banco Digital de Teses e Dissertações da Capes tem um volume imenso de publicações que podem ser pesquisadas na temática, principalmente a partir de 2010.

O professor ressalta que esta inércia de muitos docentes faz com que o assunto, que deveria ser tratado dentro da sala de aula, acabe sendo abordado apenas em eventos extraclasse. Daí vem o papel dos Neabis nas unidades de ensino. Por outro lado, ele ressalta que existem professores, gestores e instituições totalmente comprometidas com a temática e por isto ela tem avançado de modo geral, ainda que não tanto internamente na sala de aula. 

“O Neabi é o provocador, pode sugerir abordagens, bibliografias, temáticas de projetos, porque é de sua competência. Mas, o Neabi não deve usurpar esta responsabilidade dos professores. Mas, como isto não acontece, os Neabis acabam assumindo pela ausência de atividades intraclasse”, comenta. walter cabedelo centro ifpb.jpeg

Segundo a resolução do IFPB, os Neabis devem ter em sua formação, docentes, técnico-administrativos, estudantes e membros da comunidade externa. O interessado em fazer parte deve manifestar seu interesse diretamente às coordenações dos Neabis que estão vinculados às Diretorias de Ensino dos campi e atuam em articulação com as coordenações de extensão e pesquisa. A Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proexc) destina anualmente fomento para propostas desenvolvidas pelos Neabis, selecionadas via edital.

Heliton Santana memorial inauguraçao.jpegA Diretora de Articulação Pedagógica da Pró-Reitoria de Ensino, Lucrécia Petrucci, lembra da responsabilidade de se trabalhar as questões étnico-raciais em todas as disciplinas, de modo transversal, e comenta que os educadores não podem se eximir desta temática. Segundo a diretora, este ponto é fundamental nas avaliações de cursos porque é uma obrigatoriedade da legislação educacional. Ela ainda comentou da criatividade que muitos campi estão tendo ao trabalhar a temática totalmente inseridos nas discussões da comunidade externa.  

A reitora Mary Roberta gravou um vídeo especialmente tratando do Dia da Consciência Negra e reafirmando o compromisso do IFPB no combate ao racismo e na inclusão da população negra como forma preponderante para romper as desigualdades no Brasil.  Confira o vídeo no instagram do @ifpb.oficial que está com uma programação especial na Semana da Consciência Negra. 

A mudança de mentalidade pode acontecer a partir dos inúmeros eventos que as instituições educacionais proporcionam, no mês da consciência negra. No IFPB, desde o primeiro dia do mês, diversos campi estão com extensa programação, mostrando articulação com a comunidade externa no desenvolvimento da temática da educação das relações étnico-raciais. A seguir destacamos alguns com atividades ainda a serem executadas.

EVENTOS e PROJETOS

João Pessoa 

No campus João Pessoa do IFPB, desde o primeiro dia do mês teve início o evento “Novembro Negro - Trânsitos Ancestrais, caminhos para educação antirracista”, com uma vasta programação, trazendo grandes nomes em uma articulação do NEABI local, coordenado pelo docente João Edson Rufino. Foram palestras, performances, culinária, exposições e show com o músico Escurinho. Até o dia 30, tem palestras, exibição de filmes, oficinas, rodas de conversa, concertos musicais e visita ao Porto do Capim.  A programação completa você confere neste link. Ainda é possível se inscrever gratuitamente no site do even. O Neabi também está desenvolvendo uma pesquisa com base em depoimentos pessoais. pesquisa NEABI JP.jpeg

Cabedelo Centro 

Em uma parceria com o Neabi do campus JP, o campus Cabedelo Centro vai trazer a programação do Novembro Negro para o Teatro Santa Catarina no dia 18. Ainda vai ter programação no campus Cabedelo Centro nos dias 27 e 30 de novembro. São rodas de conversa sobre empreendedorismo, palestra sobre aspectos jurídicos do racismo e espetáculos de dança, entre outros momentos de integração com a comunidade externa. O coordenador do Neabi, Walter Silva, destaca que desde outubro diversas ações têm trabalhado a temática. 

Campina Grande

Em Campina Grande, o Neabi está organizando o Festival IF Negritudes nos dias 22 e 23 de novembro. A programação pode ser conferida no instagram do @neabi_ifpbcg O evento é aberto à comunidade externa e terá atrações culturais e presença de líderes comunitários. 

Itaporanga 

Em Itaporanga, diversas ações vêm sendo desenvolvidas pelo projeto “Tecendo as raízes afrodiaspóricas”. Em outubro, foi realizada uma oficina de tranças nagô e box braid como forma de apresentar um meio de renda, disseminar a arte das tranças afros e promover a autoestima da população negra. Itaporanga ifpb 2.jpeg

Em novembro, será trabalhada a boneca abayomi por meio de uma palestra explicando o seu significado e a sua representatividade tanto no brincar como na resistência negra e após uma oficina para a confecção da boneca abayomi. Em dezembro, será discutida a temática dos quilombos por meio do estudo histórico, analisando as suas origens, estrutura político-social e o seu papel como centros culturais e de tradição afro-brasileira.  

A servidora Clara Camile informa que o projeto tem um instagram em que dissemina eventos e conteúdos pertinentes à negritude @raizesafrodiasporicas

Santa Luzia

O Campus Santa Luzia está organizando a I Mostra de Cultura Afro-Brasileira Local entre os dias 20 e 23 de novembro. Antes do evento, já vem sendo realizadas imersões em comunidades tradicionais como o quilombo do Talhado, em um trabalho de aproximação de servidores e estudantes com as louceiras. As ações são coordenadas pelos professores Joselito Eulâmpio e Tatiele Souza. 

Patos

O Campus Patos está promovendo desde o dia 18, indo até o dia 23 de novembro, a VII Semana da Consciência Negra, organizada pelo Neabi. No dia 21, tem a Roda de Conversa: Quando me gritaram negra/o – Karaokê e no dia 22 a Troca de Saberes sobre A escrita de mulheres negras, trabalhando a obra de Carolina Maria de Jesus e Contos negreiros de Marcelino Freire, com os docentes Amanda Oliveira e Heytor Queiroz.IFPB PATOS.jpeg

Santa Rita

No campus Santa Rita do IFPB, foi inaugurado neste semestre o Memorial Antônio Heliton Santana que preserva materiais e conta a história do ativista negro e artista teatral nascido na cidade em 1950. O espaço traz mais de 1.500 itens, entre documentos e objetos pessoais que contam toda uma história marcada por memórias coletivas que registram as experiências e as lutas dos afro-brasileiros na região. Heliton foi muito importante no Teatro Popular do Nordeste e o memorial está aberto a visitação, tendo um perfil no instagram @memorialhelitonsantana 

Cabedelo 

Neste mês, uma notícia nos encheu de orgulho. A estudante do Campus Cabedelo, Bárbara Rejeane Guilherme Pereira, do Curso de Design Gráfico, está entre os finalistas do Prêmio Jabuti com seu trabalho de ilustração do livro “Neguinha, sim”, do escritor Renato Gama, publicado pela Editora Companhia das Letras. O Prêmio é talvez o mais tradicional do meio literário. O livro concorre na categoria infantil. 

O Campus desenvolveu programação para os dias 21 a 23 de novembro, com o tema Vozes rebeldes ecoam: Histórias da Luta e da resistência negra. Exibição de filmes, show de Escurinho, oficinas, exposições rodas de conversa foram organizadas pelo Neabi do IFPB Cabedelo.

 Texto: Ana Carolina Abiahy - jornalista do IFPB / Arte: Ana Júlia Silva - estagiária do IFPB