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IFPB aumenta a presença feminina em cargos de gestão
Fenômeno estrutural, o machismo não poupa sequer o ambiente acadêmico. No Instituto Federal da Paraíba (IFPB), cujo quadro de pessoal inclui cerca de 1.300 servidoras, a chegada de mais mulheres aos cargos de gestão aos poucos vai mudando a cultura organizacional que herda posturas de desrespeito recorrentes na sociedade brasileira.
De acordo com a Diretoria Geral de Gestão de Pessoas (DGEP), 706 servidoras do IFPB são docentes (entre aposentadas, ativas e substitutas) e cerca de 580 ocupam o cargo de técnico-administrativo (ativas e aposentadas). O Instituto tem 1.797 servidores do sexo masculino, sendo 1.152 docentes e 645 técnico-administrativos.
Das mais de 1.180 servidoras efetivas, 247 mulheres ocupam cargos de gestão, incluindo a reitora Mary Roberta Meira Marinho, primeira mulher a ocupar o cargo de dirigente máxima do IFPB. Desse total, 146 têm função gratificada, 57 função de coordenação de curso e 44 possuem cargos de direção. Em relação aos homens, 379 servidores efetivos ocupam cargos de gestão (184 com função gratificada, 114 com coordenação de curso e 81 com cargos de direção).
Atualmente, o Instituto Federal da Paraíba possui quatro mulheres como pró-reitoras: Silvana Costa (Pesquisa, Inovação e Pós-graduação); Josi Batista (Extensão e Cultura); Anna Clara Feliciano (Assuntos Estudantis) e Cleidenédia Morais (Administração e Finanças). Em relação aos cargos de Direção-Geral dos campis, seis são ocupados por mulheres: Ana Cristina Dantas (Campina Grande); Claudia Brandão (Areia); Hirla Carla Amorim (Mangabeira); Jordânia Lucena (Princesa Isabel); Kyara Nóbrega Fabião (Guarabira); Turla Alquete (Cabedelo). Dentre as cinco diretorias sistêmicas da Reitoria, apenas uma é ocupada por uma mulher, a relações-públicas Mayara Guimarães Fonseca, que lidera a Diretoria-Geral de Comunicação e Marketing (DGCOM). É o maior percentual de mulheres em cargos de gestão que a instituição já teve nos campi e na direção sistêmica.
Mulheres vivem desafios que vão além das funções administrativas
Para a diretora-geral do Campus Areia, Cláudia Brandão, a maior dificuldade como gestora no IFPB é a gestão de pessoas para que interesses particulares não se sobreponham às demandas institucionais. “E o machismo sempre foi um grande entrave… com a tentativa de impor sua opinião no grito e não acatar os comandos da gestão apenas pelo fato de estarem sendo apresentados por uma mulher”, comenta.
Já a diretora-geral do Campus Cabedelo, Turla Alquete, acredita que a maior dificuldade está na validação do seu trabalho. “O simples fato de ser mulher me coloca numa posição de sempre ter que demonstrar ser capaz de exercer essa ou aquela função”, diz. “Isso aconteceu por um tempo. Hoje preciso provar menos que sou capaz, porque já conhecem o meu modo de trabalhar”, complementa.
Impor-se, sendo mulher, ainda é desafio quase diário no IFPB. Para algumas gestoras, porém, o cargo de origem também gera preconceito. É o caso da servidora Jordânia Lucena, que é diretora-geral do Campus Princesa Isabel. “Podemos considerar o machismo como uma dificuldade encontrada, sim, mas o fato de eu ser técnica administrativa também continua a ser um fator muito forte de preconceito enfrentado”, comenta. Para Jordânia, o machismo ainda está muito enraizado nos cargos de gestão, uma vez que eram majoritariamente masculinos. “Mas nós, mulheres, estamos quebrando esses paradigmas e dando exemplo à frente desses cargos”.
Jordânia Lucena aponta como desafio a falta de apoio de muitas mulheres. “Muitas vezes, elas são tão machistas ou mais machistas que alguns homens”, comenta. Outro desafio é a falta de respeito de alguns homens ao verem uma mulher nos espaços de poder — por não aceitarem que elas estejam em uma posição de destaque ou outros fatores.
Turla Alquete acredita que é muito importante que a mulher líder possa dialogar com colegas de todos os gêneros, buscando criar um ambiente de apoio e colaboração. “É papel também pensar em ações institucionais que empoderem as mulheres e que busquem a equidade de gênero”, destaca. E ressalta: “Por se tratar de uma instituição de ensino, devemos sempre abordar a inclusão e a equidade de gênero como assuntos transversais nas atividades com nossas e nossos estudantes”.
Se ocupar um cargo de gestão inclui obstáculos inerentes à função, ser líder tentando mudar a cultura organizacional (tradicionalmente masculina) impõe às mulheres ainda mais desafios. Segundo Cláudia Brandão, o maior desafio é não precisar ser forte o tempo todo. “Manter a delicadeza, o afeto, o cuidado… liderando com argumentos e resultados. Não precisamos ganhar no grito”, afirma.
Palavras importam: manterrupting e mansplaining são comuns
Ouvir frases como “Tá muito estressada hoje”, “Tá de TPM?” ou “É a menopausa?” são apenas alguns exemplos de comentários machistas ouvidos por gestoras do IFPB. No enfrentamento do sexismo, porém, silêncio não tem vez. Falar importa e é necessário, inclusive sobre termos em inglês que refletem a realidade de muitas mulheres.
Manterrupting e mansplaining são alguns desses termos, representando também exemplos de violência psicológica cometida contra as mulheres. A primeira palavra (manterrupting) representa a situação em que um homem interrompe a fala de uma mulher, desvalorizando sua voz. Já o outro termo (mansplaining) se refere a quando um homem explica algo de forma condescendente para mulheres, sem que haja solicitação.
Cláudia Brandão é familiarizada, na prática, com o que o termo manterrupting expressa. “Já passei inúmeras vezes por essa situação. Até conseguir me impor”, relata. Por sua vez, Turla Alquete revela que já foi vítima de manterrupting e mansplaining. “Fiz questão de pontuar com os colegas de trabalho no momento em que cada uma das situações ocorreu. É sempre importante enfrentar o machismo e não pormenorizar esses comportamentos”, ressalta.
Para Jordânia Lucena, nas situações de manterrupting e mansplaining, fica nítido que a intenção de quem fala é desvalorizar ou reprimir o discurso das mulheres. “Muitas vezes nos fazem recuar para tentar voltar novamente ao objetivo da propositura. Mas não desistimos! E o bom de tudo isso é que nós mulheres somos tão habilidosas que retomamos a situação de forma plena e mais eficaz e eficiente”, afirma Jordânia.
Mais de 45% dos servidores federais são mulheres
Conforme dados do Observatório de Pessoal do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), do total de 572,8 mil servidores federais ativos, 45,6% (261,4 mil) são mulheres. O número (referente a janeiro de 2025) indica um aumento de 3,21% em relação a 2022, quando 44,8% (253,2 mil) dos 564,9 mil servidores eram do sexo feminino; ou seja, a presença de mulheres na Administração Pública Federal está crescendo.
Já em cargos e funções (comissionadas de direção e assessoramento e gratificações técnicas) da Administração Pública Federal, a participação feminina cresceu 7,44%, passando de 40% (37 mil) do total de 91,2 mil cargos e funções em 2022 para 42% (39,8 mil) do total de 94,7 mil cargos e funções em 2025. Quando se considera apenas o total de cargos de direção e assessoramento criados pelo governo atual, 76% (965) dos 1.270 cargos de nível 13 a 17 são ocupados por mulheres.
Esta matéria dá continuidade à série "Cada mulher que se impõe me liberta", lançada pela DGCOM/Reitoria para celebrar o Mês das Mulheres.