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IFPB tem primeira defesa de TCC de estudante surdo do curso de Química
Na última segunda-feira (07), o Instituto Federal da Paraíba viveu um marco histórico: a defesa do primeiro trabalho de conclusão de curso (TCC) desenvolvido por um estudante surdo do curso de Licenciatura em Química da instituição. Com o título “Criação de sinais-termo em Libras: ensino da Química Verde para uma turma inclusiva”, o trabalho elaborado por José Lucas da Costa Campos, aluno do Campus João Pessoa, inova ao propor um novo sinal-termo na Língua Brasileira de Sinais (Libras) para a “Química Verde”, preenchendo uma lacuna na literatura especializada e contribuindo para a ampliação do conhecimento voltado para a comunidade surda na área.
O trabalho feito por José Lucas foi orientado pela professora Alessandra Marcone Tavares Alves de Figueiredo, do Campus João Pessoa, e coorientado pelo professor Carlos Alberto da Silva Júnior, do Campus Sousa, especialistas nas áreas de Química Verde e ensino inclusivo da Química para o público surdo. O TCC está inserido em um conjunto mais amplo de estudos desenvolvidos pelos docentes e por mais uma equipe de pesquisadores que vêm produzindo recursos pedagógicos bilíngues - em Libras e em Língua Portuguesa - voltados para a inclusão dos estudantes surdos no processo de ensino e aprendizagem.
De acordo com a professora Alessandra Figueiredo, coordenadora do grupo de pesquisa “Inclusão no Ensino de Química: Metodologias Alternativas e Abordagem Ambiental”, existente desde 2009, o mapeamento dos materiais didáticos bilíngues possibilitou ao grupo de pesquisadores perceber a escassez desse tipo de conteúdo e de recursos pedagógicos que ampliem o repertório de termos ligados ao ensino da Química na Libras e a popularização desses conhecimentos junto à comunidade surda.
Dessa lacuna surgiu a proposta do trabalho realizado pelo estudante José Lucas, que se dedicou à criação de novos sinais-termos para a Química Verde e para outros temas pertencentes ao universo da disciplina, que tem ênfase na inovação e no desenvolvimento sustentável. Para Alessandra, o trabalho abre caminhos para a elaboração de modelos didáticos bilíngues mais acessíveis. “Portanto, esse trabalho inédito produzido no IFPB colabora com a inclusão de alunos surdos, disseminando o ensino de Química Verde, a partir da criação de novos sinais-termo, no intuito de favorecer o conhecimento crítico dos surdos e contribuir com o respeito à diversidade”, afirmou a docente.
O professor Carlos Alberto, coorientador do trabalho e líder do “Green Maker Lab - Grupo de Pesquisa e Inovação em Química Verde”, também reforçou o pioneirismo do trabalho e o seu grande potencial científico e didático. Segundo o docente, além de criar um sinal-termo para a Química Verde, o TCC também se preocupou com a elaboração de sinais para termos correlatos que facilitam a compreensão da matéria pelo público surdo, contribuindo para tornar o processo de ensino-aprendizagem mais claro e eficiente.
“É importante também destacar o uso da Metáfora da Bipirâmide Triangular (MBT) como modelo didático para a criação desses sinais-termos. O próprio José Lucas, em seu TCC, criou o sinal-termo em Libras para a 'Metáfora da Bipirâmide Triangular (MBT)'. Isso é muito empolgante, pois verificamos nesta pesquisa não apenas um trabalho ‘para’ a comunidade surda, mas ‘com’ a comunidade surda. Isso é inclusão na perspectiva da MBT. Isso é o que fazemos no IFPB”, ressaltou Carlos Alberto.
A fala do professor sublinha o componente dialógico dos modelos didáticos inclusivos, que valorizam as contribuições dos próprios destinatários na elaboração das estratégias pedagógicas. A fala destaca também a importância da inclusão na construção coletiva de um conhecimento científico mais plural, diverso e aplicado às realidades de todos os estudantes do IFPB.
A defesa do trabalho de conclusão de curso de José Lucas aconteceu na tarde desta segunda-feira, 07 de abril, no auditório do Campus João Pessoa. O trabalho foi apresentado pelo estudante na Língua Brasileira de Sinais e contou com transmissão ao vivo pelo Google Meet. Além do estudante e da banca examinadora, estiveram presentes na ocasião familiares e amigos do estudante e também alunos e servidores do campus interessados nas temáticas da inclusão, acessibilidade e diversidade no ambiente acadêmico.