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Jovem que fez oficina no IFPB colabora com mostra de Sergio Cezar na França

Jefferson Rodrigues é artista e participou de atividade no Campus Santa Rita
por Angélica Lúcio publicado: 02/04/2025 15h27 última modificação: 02/04/2025 16h13

Um encontro entre a negritude e a arte contemporânea que vai extrapolar o território nacional. Assim pode ser resumida uma história recente vivida pelo jovem artista Jefferson Rodrigues de Albuquerque, 18 anos, morador do bairro Marcos Moura, em Santa Rita-PB. Ele foi convidado pelo artista plástico Sergio Cezar para colaborar na produção de material para uma exposição em Montpellier, França, após ter participado de uma oficina artística no Instituto Federal da Paraíba (IFPB) - Campus Santa Rita. A mostra vai integrar a temporada França-Brasil 2025, que celebra os 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países. 

A conexão entre Jefferson Rodrigues e Sergio Cezar começou em 2024, durante uma oficina de pintura de tecidos promovida pelo Campus Santa Rita em alusão ao Novembro Negro. A atividade integrou a 5ª Semana da Consciência Negra e foi organizada pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) em parceria com a equipe pedagógica da unidade de ensino. Reunindo jovens negros do bairro Marcos Moura, o evento teve os professores Tiago Spinelli e André Souza como responsáveis pela organização. Jefferson faz parte do Instituto Afro Aurora Dance, coordenado por Rodrigo Baima, e é um dos colaboradores do Neabi. Este foi o terceiro ano que Sérgio Cezar colaborou com o núcleo.

Artista Sergio Cezar ministra oficina de pintura em tecidos no IFPB - Campus Santa Rita.jpegPara o professor Tiago Spinelli, a parceria entre Jefferson e Sergio Cezar exemplifica como a arte transforma vidas e conecta culturas. Ele destacou o impacto de Sergio entre as pessoas (notado na satisfação e no carinho de quem está ao seu redor) e a tradição do movimento negro em Santa Rita, incluindo o trabalho do ativista social e artista Héliton Santana. O professor Spinelli complementa que o encontro entre gerações de artistas negros permite extravasar a pressão do racismo por meio da arte, aflorando a expressão artística e o sentimento comunitário.

Jefferson, que protagoniza essa história juntamente com Sergio Cezar, conta como tudo aconteceu. “A gente se conheceu no IFPB, em Santa Rita, em uma aula em que ele convidou meu instituto de dança para uma aula dele. Ele viu o meu potencial na arte e me convidou para começar a trabalhar com ele”, diz. “Está sendo uma experiência muito incrível, porque sempre foi meu sonho, né?, conhecer Cezar. Então isso me fortaleceu muito para eu não desistir da arte”. 

Segundo Jefferson, os dois artistas passaram a trocar ideias, pelo celular e pela internet, e o jovem mostrou alguns trabalhos ao artista carioca. Surgiu então a proposta de trabalharem juntos, sob orientação de Cezar. “Hoje, a gente está focado em terminar esse projeto para a França, trabalhando nisso todo sábado até o dia da viagem". Nesse processo, o bate-papo sobre arte é contínuo, e também as trocas culturais. “Aprendi com ele sobre construções de papelão e serigrafia em roupas, o que expandiu minha criatividade. Isso me permitiu desenvolver novas teorias sobre a arte. Já via (a arte) com os olhos brilhando, agora eu vejo com a mente e com a alma”, conta o jovem artista santa-ritense.

Artista Sergio Cezar trabalha em maquete que será exposta na França.jpgArtista plástico do Rio de Janeiro radicado na Paraíba, Sergio Cezar também é conhecido como o Arquiteto do Papelão. O artista carioca é autodidata e usa materiais descartados e lixo para recriar casas, favelas e cidades inteiras. Detalhe: tudo isso com muita poesia visual.  "Procuro colocar poesia dentro da favela: a roupa no varal, o jogo de futebol. A poesia da favela. É uma obra de arte que eu faço que remete às pessoas". Atualmente, ele mora em Jacumã, município de Conde. O convite para a exposição em Montpellier surgiu como um reconhecimento à sua história artística. “Faz 43 anos que faço esse trabalho. O organizador já conhece seu trabalho e quer você”.  

Para a mostra em Montpellier, que ocorrerá em maio, Sergio Cezar vai apresentar uma maquete artística composta por casinhas de papelão e convidou Jeferson Rodrigues para colaborar na produção das peças. “Foi muito interessante encontrar esse rapaz”, conta Sergio Cezar, referindo-se a Jefferson, seu novo parceiro de produção artística. “Esse menino é muito bom. Vi criatividade, ele é determinado. É uma pessoa que está na idade de ouvir, prestar atenção, pega as coisas rápido”, conta o artista plástico, que já expôs em diversos países e teve a arte apresentada na abertura da novela Duas Caras, da TV Globo. “Na abertura das novelas Duas Caras, tinha 9.500 barracos que nós cortamos”. 

Trabalho de Sergio Cezar.jpg

Artista plástico autodidata realiza papos-palestra

No Campus Santa Rita, Sergio Cezar realizou o que chama de papo-palestra. “É uma troca de ideias e uma forma de passar as coisas que eu faço”, explica. “Lá, fui ensinar a pintar com o relevo dos objetos. Faço uma arte que os jovens podem viver dela. Você descobre o seu talento, é uma coisa muito legal de ver”, diz. 

A jovens como Jefferson, o artista também dá algumas orientações para a vida.  “Tem que pegar devagar, não deixar essa história de ser artista subir à cabeça. Você tem a oportunidade de criar e ser dono da sua marca; com o tempo, conseguir encontrar seu caminho”, afirma. E ressalta: “Também ensino a observar. A gente esquece e perde muito por não observar”. 

Sergio Cezar lembra que, nos primeiros contatos com Jefferson, sentiu que o jovem tinha potencial para a arte. “Dentro da turma toda, vi que ele era um menino super atencioso e tudo. Eu não sabia que ele fazia grafite e dança. Descobri depois, quando ele se revelou”, relata. 

O trabalho que será exposto na França ainda está em construção. Será uma favela composta por mais de 400 casinhas de papelão, e cerca de 250 devem ser feitas na Paraíba, com o apoio de Jefferson. A obra deve medir 1,60m x 1,50 m e será toda iluminada, com fiação própria. 

“Dei as medidas para ele (Jefferson), e a ideia é fazer uma obra coletiva. Ele começou a cortar papelão e a cortar nas medidas da escala da maquete. Eu acho que ele está descobrindo coisas, e até a retratar onde vive. Está na fase de colocar suas ideias para fora”, afirma Sergio Cezar.  

Angélica Lúcio - jornalista da DGCOM/IFPB



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