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Mobilidade acadêmica torna estudante autossuficiente e responsável com as causas do Brasil
O intercâmbio acadêmico é, muitas vezes, idealizado como uma experiência transformadora, capaz de expandir horizontes e proporcionar novas perspectivas pessoais e profissionais. Victor Martins, aluno do curso de Engenharia Civil, Campus João Pessoa, do IFPB, que passou um semestre no Instituto Politécnico de Bragança (IPB) em Portugal, revela desafios e conquistas promovidas pelo programa “mobilidade acadêmica”.
A escolha do IPB deu-se, em particular, pela existência de uma formação correlata à da instituição de origem, bem como experiências positivas relatadas por outros estudantes na referida instituição. "O objetivo era conhecer a cultura, novas pessoas, e claro, experimentar um novo sistema de ensino," conta Victor.
Expectativas versus realidade
Victor partiu para Portugal com a expectativa de que o ensino europeu fosse significativamente superior ao brasileiro. No entanto, ele se surpreendeu ao constatar que a diferença não era tão acentuada como imaginava. "Eu achei até que o ensino lá era um pouco mais fácil em alguns aspectos. Não notei uma diferença absurda na qualidade," relata o estudante.
Por outro lado, Victor destaca a infraestrutura do IPB como um ponto de excelência, especialmente os laboratórios, que superam os das universidades brasileiras, em termos de investimento e recursos. Em contrapartida, os métodos de ensino-aprendizagem deixam a desejar. Ele cursou quatro disciplinas no IPB: Arquitetura e Urbanismo, Material de Construção, Hidráulica I e Estatística e Probabilidade.
Instado a falar sobre as diferenças sociais entre os dois países, Víctor resumiu sua análise afirmando que “viver em Portugal, foi um tipo de experiência utópica, na qual eu me sentia totalmente seguro ao andar pelas ruas, usar os transportes públicos, a qualquer hora do dia, ou da noite, sem a sensação que poderia ser atacado a qualquer momento”, desabafou.
Desafios culturais e sociais
No entanto, o referido estudante relata as mesmas experiências de outros alunos, que também participaram do programa mobilidade acadêmica, em Portugal, com relação às dificuldades no relacionamento acadêmico entre docentes e discente, e com os colegas europeus.
Victor afirma ter experimentado um choque cultural logo nas primeiras semanas, enfrentando uma relação mais distante entre professores e alunos do que estava habituado no Brasil. "O contato é bem diferente. Lá, o distanciamento é maior, o que foi um choque para mim," compartilha.
Além disso, sentiu na pele o preconceito e a xenofobia que muitos brasileiros enfrentam em Portugal. "Passei por situações desconfortáveis, onde fui mal atendido em estabelecimentos comerciais simplesmente por ser brasileiro," lembra ele, ressaltando que, apesar dessas dificuldades, também encontrou pessoas simpáticas e acolhedoras; o que termina sendo algo compensatório.
Apesar das dificuldades, Víctor afirma que conseguiu se superar, em termos de limitações impostas pela condição de estrangeiro, e ter excelentes resultados acadêmicos no intercâmbio. “Isto foi importante não só para mim, mas também para o meu país, pois mostramos que somos iguais, em situações de desempenho acadêmico, derrubando estereótipos negativos contra os brasileiros”, enfatiza ele.
Apesar das adversidades, Victor acredita que a experiência de intercâmbio foi valiosa, principalmente para seu desenvolvimento pessoal. "Sinto que me tornei mais independente, mais autônomo. Essa experiência me fez crescer muito," diz ele, acrescentando que: "O estudante precisa ter uma base financeira sólida ou, caso contrário, será difícil aproveitar plenamente a oportunidade".
Víctor relatou que presenciou o caso de uma estudante do programa mobilidade que teve de trabalhar como funcionária em um Café, em Portugal, para conseguir financiar os estudos; o que, para ele, é lamentável, pois o tempo gasto no trabalho prejudica os estudos. Ele não revelou a instituição de origem da referida aluna.
Imigrar para a Europa
Quando questionado sobre seus planos futuros, a exemplo de se tornar um imigrante, Victor expressa um dilema comum entre muitos estudantes brasileiros que realizam intercâmbios. Embora valorize sua experiência e considere voltar para Portugal para continuar os estudos em outros níveis educacionais, ele também sente um forte apego ao Brasil. "Tenho orgulho do meu país e não gostaria de deixar isso para trás. Quero voltar à Europa, mas apenas com o propósito de fazer uma pós-graduação" pondera.
A experiência do estudante Victor Martins é um exemplo de superação e resiliência, motivo pelo qual ele encoraja outros colegas a vivenciarem a mesma experiência; desde que estejam preparados para os desafios que possam surgir.
Como outros estudantes que participaram do referido programa, Víctor sugere aprimoramentos em termos de acompanhamento do processo com relação à adaptação dos estudantes em outro país, bem como melhorias no apoio financeiro.