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Professor do IFPB Campus Sousa participa de estudo publicado em revista internacional de geologia e paleontologia
Uma equipe composta por pesquisadores de três universidades brasileiras e uma norte-americana teve um artigo publicado recentemente no Journal of South American Earth Sciences, um periódico de relevância internacional nas áreas de geologia e paleontologia. Intitulado “Dieta isotópica anual (δ13c, δ18o) do Notiomastodon platensis na região intertropical brasileira durante o último máximo glacial”, o artigo lançou luz sobre a dieta e os hábitos de uma espécie de mastodonte que viveu na região de Sousa (PB) no período conhecido como a “Era do Gelo”, cientificamente denominada de Pleistoceno.
O trabalho foi o resultado de um estudo produzido colaborativamente por cinco pesquisadores: Aline Marcele Ghilardi, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Alexander Cherkinsky, da Universidade da Georgia (EUA), Gisele Aparecida dos Santos Neves e Mário André Trindade Dantas, ambos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Universidade Federal da Bahia (UFBA), e Francisco Tibério Felismino de Araújo, do Instituto Federal da Paraíba (IFPB).
De acordo com uma das cientistas que conduziram a pesquisa, Aline Ghilardi, o estudo foi feito com um fóssil identificado como um material dentário do mastodonte encontrado no Núcleo II, uma área habitacional pertencente ao município de Sousa (PB), durante a escavação do açude da região. A pesquisadora explicou que, após a coleta e o envio do material para análise, o primeiro passo foi a realização da datação do fóssil, que mostrou que a espécie estudada deve ter vivido há cerca de 24 mil anos, bem no pico do último máximo glacial, um pouco antes do final do período Pleistoceno, que seria por volta de onze mil anos atrás, quando houve a extinção dos megamamíferos.
Além da datação da espécie, a análise dos isótopos de carbono permitiu aos pesquisadores descobrir qual teria sido a dieta desse animal na época, o que fornece pistas para entender como era a vegetação e até mesmo o clima da região no passado. Aline explicou que o indivíduo analisado adotava uma dieta clássica generalista, semelhante à de outros mastodontes encontrados em outras regiões brasileiras, em que o animal ingeria alimentos como grama e plantas da família das gramíneas, bem com árvores e folhas.
Esses achados, segundo Aline, são muito interessantes porque transcendem a caracterização de uma espécie extinta. De acordo com a pesquisadora, o estudo da dieta do mastodonte “ajudou a recuperar alguns dados paleoclimáticos da região de Sousa no passado, como a evidência de que talvez tivéssemos uma Sousa um pouco mais úmida que as outras regiões do Nordeste do país cerca de vinte e quatro mil anos atrás. Esse foi um dado interessante que nós conseguimos recuperar também”, afirmou Aline.
A cientista reforçou, ainda, o impacto de descobertas como essas para a pesquisa paleontológica nacional. “Esse artigo traz a primeira descrição formal de um material fóssil de megafauna encontrado na região de Sousa, o que expande o potencial paleontológico de toda essa área. O nosso estudo revela que Sousa não tem apenas fósseis de pegadas de dinossauros, mas tem também outras histórias para nos contar no que se refere aos grandes mamíferos da Era do Gelo”, argumentou Aline.
O professor Tibério Araújo, do IFPB, também falou sobre a participação no estudo e a sua importância para a região. “Nós recepcionamos os pesquisadores aqui em Sousa, visitamos as áreas, coletamos o material para ser analisado e fizemos articulações para que o fóssil fosse disponibilizado lá no Núcleo II. Foi uma experiência enriquecedora para todos nós. Essa pesquisa traz informações novas e coloca os estudos em um novo nicho de pesquisa no que diz respeito à questão da exploração da megafauna. Isso fortalece ainda mais o trabalho paleontológico que nós temos aqui realizado na região. Foi uma grande satisfação termos participado, como representantes do IFPB, desse trabalho e desenvolvido novas estratégias junto com a Aline e os demais pesquisadores”, finalizou o professor.
O estudo soma novos conhecimentos ao acervo paleontológico brasileiro ao desvendar aspectos inexplorados da pré-história do país. A parceria entre instituições do Nordeste e estrangeiras demonstra o potencial científico e paleontológico latente na região, que poderá fornecer novos materiais para futuras investigações na área.