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Cientistas descobrem novas pegadas de dinossauros na Bacia do Rio do Peixe, próxima ao município de Sousa

Descoberta feita por pesquisadores parceiros do Campus Sousa reforça o potencial paleontológico e turístico da região
por Amanda Tavares de Melo publicado: 23/08/2024 11h21 última modificação: 23/08/2024 11h32

Uma nova pista de pegadas de dinossauros encontrada por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) forneceu informações inéditas sobre a evolução dos dinossauros saurópodes, nome dado ao grupo de dinossauros de pescoço e cauda longa, popularmente conhecidos como “pescoçudos”. O novo conjunto de pegadas foi descoberto no município de São João do Rio do Peixe, a 38 quilômetros de Sousa (PB), onde está localizado o Monumento Natural Vale dos Dinossauros, um dos sítios paleontológicos com maior incidência de pegadas de dinossauros da América do Sul.

De acordo com os cientistas que encontraram e fizeram o estudo detalhado das pegadas, a pista de saurópode titanossauriforme, um tipo específico de saurópode que possuía um corpo bastante robusto, contribui para a compreensão da grande diversidade de dinossauros pescoçudos existentes no início do Período Cretáceo (de 145 a 65 milhões de anos atrás) e também para entender a evolução da locomoção do grupo, que atingiria tamanhos gigantescos até o final do período geológico.

Além de ampliar os conhecimentos sobre os titanossauriformes da região, o novo achado também trouxe um conjunto de características únicas que permitiram aos pesquisadores definir um novo icnogênero e icnoespécie, que passou a se chamar  Sousatitanosauripus robsoni.

A professora Aline Ghilardi, docente do Departamento de Geologia da UFRN e especialista em pegadas de dinossauros, explicou como funciona o estudo de pegadas fossilizadas de animais pré-históricos. “Os tipos diferentes de pegadas recebem nomes próprios, binomiais e latinizados, com uma estrutura muito parecida com aquela usada para dar nome as espécies de animais e plantas. No entanto, no estudo de pegadas, esses nomes se referem à forma da pegada e não ao animal que as produziu, por isso são chamadas de icnogêneros e icnoespécies. Esse sistema nomenclatural ajuda os cientistas a distinguir um tipo de pegada do outro e assim estudar a evolução da anatomia e do comportamento dos animais ao longo do tempo”, esclareceu a professora.

A primeira parte do nome do novo icnogênero faz referência à bacia sedimentária de Sousa, onde as pegadas foram encontradas, e à possível afinidade com o grupo de dinossauros que produziram a pegada. Já “Robsoni”, o nome da icnoespécie, é uma homenagem feita pelos pesquisadores à memória do senhor Robson Araújo Marques, falecido em 2021, e conhecido na região de Sousa como “o velho do rio” e “Guardião do Vale dos Dinossauros”. Segundo os pesquisadores, o Sr Robson foi um dos primeiros habitantes da região a descobrir pistas de dinossauros no sítio de sua família e trabalhou durante boa parte de sua vida para proteger e divulgar as riquezas paleontológicas do território. “Trabalhamos na região desde 2016 e desde então tivemos contato com o Sr Robson, que sempre demonstrou muito carinho pelas pegadas e um grande talento para escrever sobre a natureza e a história da vida na Terra. Isso nos tocou muito e eu sempre disse a ele, brincando, que se fizéssemos uma grande descoberta que pudesse receber um nome, faríamos questão de homenageá-lo. E foi o que fizemos agora”, relatou a professora Aline.

As recentes descobertas feitas pelo grupo de cientistas foram tema de um artigo científico publicado na revista Historical Biology, um importante periódico internacional na área de paleontologia e biologia de animais pré-históricos. O artigo foi escrito em coautoria pelas pesquisadoras Zarah Trindade Gomes e Rebecca Fernandes Erickson e pelos docentes Aline Ghilardi (UFRN) e Tito Aureliano (URCA), orientadora e coorientador da autora principal do trabalho.

Além da publicação do artigo no periódico e da divulgação da descoberta junto à imprensa nacional e local, outra iniciativa planejada pelo grupo de pesquisadores é a realização de um evento de comunicação científica no Centro Cultural Banco do Nordeste, situado no centro de Sousa (PB). O evento acontecerá no dia 10 de setembro, às 18h30, e consistirá em um bate-papo com a população local sobre a história da descoberta e a importância das pegadas de Sousa. “A nossa ideia é falar um pouco sobre essa descoberta de uma forma descontraída e em linguagem simples, privilegiando a interação com a comunidade e as próprias perguntas que surgirem durante a conversa”, explicou Aline.

Um dos participantes do evento será o professor do IFPB Campus Sousa Tibério Araújo, que vem acompanhando os estudos nos últimos anos e que participou de importantes etapas de escaneamento e análise dos achados. “Essa descoberta  tem um valor científico e um valor simbólico muito grande para a nossa região. Primeiro porque reitera o enorme potencial histórico e paleontológico que nós temos, o que pode atrair mais investimentos para a realização de novos estudos, de cursos especializados e de criação e manutenção de espaços de conservação, o que atrai turistas e movimenta a economia local. Segundo, porque presta uma justa homenagem e dá visibilidade à memória e ao trabalho de um personagem fundamental para a descoberta e o cuidado com as pegadas dos dinossauros, o sr. Robson Araújo”, afirmou o docente.

Ainda na esteira das últimas descobertas, Tibério, Aline e outros atores locais estão envolvidos em uma articulação interinstitucional para construir uma proposta de curso na área de Agente de Turismo Sustentável, que deverá ser ofertado  pelo Campus Sousa do IFPB na modalidade de formação inicial e continuada (cursos FIC). Essa iniciativa deve desenvolver o potencial do território para o turismo científico, sustentável e o ecoturismo e vem sendo trabalhada com parceiros estratégicos como o Hub de Inovação DinoValley, o Sebrae Paraíba e diversos empresários do ramo turístico e o hoteleiro da região.

Fotos: Aline Ghilardi e Tito Aureliano

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